Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Iogurte é aliado contra câncer, especialmente para homens

Pesquisa com quase 90 mil pessoas encontra forte associação entre o consumo da bebida fermentada e o risco reduzido de desenvolvimento de lesões que podem levar ao tumor colorretal. Porém, no estudo, apenas as pessoas do sexo masculino foram beneficiados

Terceiro tumor maligno mais frequente entre os homens, o câncer colorretal pode ser evitado graças a um exame de imagem relativamente simples, a colonoscopia. Antes que a doença se instale, o médico consegue retirar, durante o próprio procedimento, massas anormais chamadas de pólipos ou adenomas. Algumas são pré-cancerosas, o que uma biópsia confirma ou descarta. Agora, um artigo publicado na revista Gut, do The British Medical Journal, mostrou que o consumo de duas ou mais porções semanais de iogurte reduz o risco de desenvolvimento dessas formações que precedem o desenvolvimento da enfermidade.

O estudo foi conduzido por médicos epidemiologistas e oncologistas da Universidade de Washington e do Hospital Brigham and Women;s, em Boston. Yin Cao, um dos autores da pesquisa, explica que se trata de uma pesquisa observacional: ou seja, ela investiga associações estatísticas, sem se concentrar na relação de causa e efeito. Mas esclarece que o conhecimento prévio dos benefícios de alimentos fermentados ; ricos em bactérias importantes para a boa saúde da microbiota intestinal ; ajuda a explicar os resultados, em parte.

;Vários mecanismos já foram postulados. Dois probióticos comuns usados no iogurte, o Lactobacillus bulgaricus e o Streptococcus thermophilus, podem reduzir os níveis de carcinógenos, como nitroredutase, enzimas bacterianas fecais ativadas e ácidos biliares fecais solúveis;, diz Yin. ;Outra possibilidade é a de que o iogurte exerça efeitos anti-inflamatórios na mucosa do cólon e melhore a disfunção da barreira intestinal. Como pacientes do sexo masculino com adenoma apresentam aumento da permeabilidade intestinal, a bebida pode beneficiar mais os homens em comparação às mulheres;, diz, referindo-se a uma das descobertas do estudo.

Frequência

Os pesquisadores utilizaram dados de duas grandes pesquisas populacionais dos Estados Unidos: o Estudo de Acompanhamento de Profissionais de Saúde, que envolveu 32.606 homens, e o Estudo de Saúde das Enfermeiras, com 55.743 participantes do sexo feminino. No início, todos se submeteram à colonoscopia, procedimento que foi realizado nos voluntários entre 1986 e 2012. A cada quatro anos, era preciso informar os pesquisadores sobre fatores de estilo de vida e dietéticos, incluindo a frequência do consumo de iogurte.

Durante o período estudado, 5.811 homens desenvolveram adenoma, contra 8.116 mulheres. Depois de ajustar fatores como idade, tabagismo e uso de álcool, entre outros, os pesquisadores compararam o surgimento de pólipos de acordo com a ingestão da bebida láctea. Entre os homens, aqueles que consumiam uma ou mais porções por semana tiveram 19% menos risco de ter o adenoma convencional, benigno. A probabilidade de surgirem, entre esses participantes, pólipos pré-cancerosos foi 26% menor, especialmente no caso das massas retiradas do cólon. ;Porém, nenhuma associação do tipo foi verificada entre mulheres;, esclarece o coautor do estudo, Xuehong Zhang, do Hospital Brigham and Women;s.

Os pesquisadores lembram que artigos anteriores haviam sugerido que o consumo alto de iogurte pode reduzir o risco de câncer colorretal ao mudar os tipos e o volume de bactérias na microbiota. Porém, não se sabia, até agora, que a bebida láctea fermentada também está associada a um menor desenvolvimento de pólipos pré-cancerosos. ;Embora seja um estudo observacional, os pontos fortes incluem comparações prospectivas e atualizadas da ingestão de iogurte com um grande número de casos de adenomas convencionais e lesões pré-cancerosas. Pesquisas futuras em diferentes grupos raciais/étnicos são necessárias para confirmar essas informações e elucidar os mecanismos biológicos associados às diferenças sexuais que observamos;, completa Xuehong.