Agentes de saúde pública poderão, em breve, detectar vírus em mosquitos selvagens de forma rápida e fácil, com a ajuda de um teste equivalente ao exame de urina. Apenas nos últimos anos, pesquisadores descobriram que micro-organismos como os que provocam dengue e febre do Nilo Ocidental podem ser identificados nas excretas, ou gotículas de resíduos líquidos, de insetos infectados. Agora, um novo estudo na Austrália mostra que dois tipos de armadilhas comumente usadas podem ser modificadas para coletar esses resíduos, em busca de sinais virais. Os resultados do trabalho foram publicados no Journal of Medical Entomology.
Segundo os autores, a técnica está mais perto de ser usada em regiões ao redor do mundo, onde os vírus transmitidos por mosquitos são uma ameaça à saúde pública. ;Esses métodos podem ser facilmente empregados globalmente, já que as modificações na armadilha para coletar excrementos podem ser feitas de forma relativamente fácil e barata;, diz Dagmar Meyer, pesquisadora de pós-doutorado da Universidade James Cook em Cairns, Queensland, e principal autora do estudo.
Outros métodos para detectar doenças transmitidas por mosquitos em populações selvagens incluem a coleta de grupos de insetos para testar diretamente os vírus ou analisar amostras de sangue de animais, como galinhas ou porcos, que também são picados pelos vetores e servem como hospedeiros ;reservatórios; de micro-organismos. Ambos os métodos trazem desafios, como o trabalho intensivo e a necessidade de manter um armazenamento frio e contínuo das amostras desde a coleta até o teste.
Em 2010, uma abordagem foi desenvolvida para coletar saliva do mosquito, material que também poderia ser testado em busca de sinais de vírus. No entanto, um micro-organismo do tipo deve incubar em um mosquito antes de ser detectado em sua saliva, período que pode durar até 15 dias, mas um vírus pode ser encontrado nos resíduos do inseto em apenas dois ou três dias. Além disso, enquanto um mosquito típico expele menos de 5 nanolitros de saliva durante a alimentação, ele produz cerca de 1,5 microlitros de líquido residual cada vez que este é excretado. Isso é cerca de 300 vezes mais material de amostra para trabalhar ; presumindo que seja possível fazer as coletas em insetos capturados na natureza.
RNA
Foi o que Meyer e colegas pesquisadores da Universidade James Cook procuraram descobrir. Eles começaram colocando armadilhas para mosquitos durante a noite, que usam uma luz acionada pela aproximação. Os equipamentos consistiam em um contêiner modificado, contendo uma substância alimentícia revestida com mel, e uma folha de policarbonato colocada no fundo do recipiente, que coletava as gotículas de excremento do mosquito.
Os pesquisadores então testaram os resíduos para a presença do vírus do Nilo Ocidental, do micro-organismo causador de encefalite e do Ross River (endêmico da Austrália), cada um dos quais foi detectado. ;Pelo que sabemos, nosso estudo é o primeiro a detectar excrementos de mosquitos transmissores de arboviroses coletados em campo;, diz Meyer.
A equipe afirma que os avanços nos métodos moleculares para detectar RNA viral em amostras biológicas nos últimos anos tornaram viável o teste da saliva do mosquito e da excreta do inseto e, agora, o sucesso na coleta e na detecção viral em excrementos abre as portas para a identificação de mosquitos capazes de transmitir doenças de uma forma ;simples, potencialmente mais econômica e que permite detecções mais precoces e mais sensíveis;. Eles sugerem que trabalhos futuros podem aperfeiçoar as armadilhas, além de comparar a eficácia da abordagem com outros métodos existentes.
Esperança de vacina
Ao visar uma proteína encontrada na saliva de mosquitos transmissores do vírus causador da zika vírus, pesquisadores da Universidade de Yale reduziram a infecção em camundongos. A descoberta, segundo eles, é importante na busca de uma vacina eficaz contra esses micro-organismos semelhantes, transmitidos por mosquitos.
Não há vacina ou terapia atual para a infecção pelo zika vírus, que causou doenças substanciais, incluindo defeitos congênitos, durante o surto de 2015, quando mais de um milhão de pessoas foram afetadas no continente americano. Uma potencial estratégia de vacina é o mosquito Aedes aegypti, que transporta e transmite o vírus. Os cientistas de Yale concentraram-se em proteínas encontradas na saliva desses insetos e em como elas podem afetar a transmissão do zika.
Triagem
A equipe isolou anticorpos do sangue de ratos picados por mosquitos. Eles, então, realizaram uma triagem genômica para identificar as proteínas do vetor e as testaram quanto ao efeito produzido na cultura celular ; bem como nos modelos de camundongos infectados ; contra o vírus zika. Os pesquisadores identificaram uma proteína, AgBR1, que aumentou a infecção nos ratos.
Em outros experimentos, os cientistas testaram se o bloqueio do AgBR1 pode influenciar a infecção pelo zika. Eles desenvolveram um antissoro AgBR1 e deram a camundongos, que foram então picados por mosquitos infectados. A substância reduziu a carga viral nos animais ao longo do tempo, e também forneceu proteção parcial contra a doença completa e a morte. Segundo os autores, o estudo mostra que os anticorpos contra a proteína do mosquito podem proteger animais da infecção. Embora mais pesquisas sejam necessárias, esses resultados podem levar ao desenvolvimento de uma vacina.