Saber para onde olhar é um importante passo na caçada pela vida fora da Terra. ;A busca certamente vai começar por exoplanetas mais próximos e com condições ideais de observação;, diz o astrônomo Jorge Luis Melendez Moreno, professor do Departamento de Astronomia da Universidade de São Paulo (USP).
;Provavelmente, primeiro será feito um estudo em superterras para, progressivamente, tentar observar planetas cada vez mais similares ao nosso orbitando na zona habitável das suas estrelas. Eu descartaria planetas orbitando estrelas extremamente frias (as de tipo anã M, com temperaturas inferiores a 3.500K), pois são magneticamente muito ativas e podem complicar o surgimento ou a manutenção da vida;, diz o pesquisador que, recentemente, publicou um estudo relatando a identificação, na Via Láctea, de estrelas potencialmente orbitadas por planetas habitáveis (Leia mais nesta página).
Como só se conhece por vida a que se tem na Terra, a busca por vizinhos precisa ser restrita ao que se chama de zona habitável: uma distância adequada do sol, garantindo uma temperatura nem muito quente, nem muito fria e propícia à existência de água líquida. ;Nós precisamos entender o ambiente espacial de um planeta para entender se ele é habitável. Se ele orbita uma estrela muito ativa, isso pode colocar em risco sua atmosfera, o que é necessário para fornecer água líquida. Mas há uma linha tênue: há indicação de que a radiação de uma estrela pode produzir os blocos construtores de vida;, observa a astrofísica Katherine Garcia-Sage, do Centro de Voos Espaciais Goddad, da Nasa.
Modelos diversos
Embora instrumentos muito mais poderosos que o supertelescópio espacial Kepler, aposentado no ano passado, estejam a caminho, por enquanto, não há como fazer a análise direta da possibilidade de um exoplaneta ser habitável. Por isso, os cientistas precisam lançar mão de diversos métodos. Um deles é a construção de modelos computacionais que simulam a aparência de um astro com potencial de conter vida, e a forma como ele interage com sua estrela.
A partir de 2020, quando equipamentos mais sofisticados, como o telescópio Wfirst, da Nasa, deverão entrar em ação, a expectativa é de que se obtenha mais detalhes ; com grande precisão ; desses planetas. O instrumento, idealizado para uma missão de seis anos, será capaz de detectar assinaturas de oxigênio e vapor d;água, entre outras indicações de vida em potencial. Será possível, então, desenvolver modelos mais complexos.
;Esses modelos vão conter inferências sobre a composição atmosférica e o clima do planeta, além da presença de oceanos e continentes. Combinando essa informação de maneira sistemática e desenvolvendo novos modelos, seremos capazes de analisar a possibilidade de presença de vida;, diz Yuka Fuji, pesquisador do Instituto de Tecnologia de Tóquio que, recentemente, publicou uma série de artigos sobre essas simulações na revista Astrobiology.
;Desde meados do século 20, temos visto avanços significativos nos métodos e nas tecnologias que podemos usar para fazer observações mais precisas e caracterizar um exoplaneta. A busca por vida em exoplanetas a anos-luz de distância é um desafio ambicioso, que não encerrará com a detecção de uma única característica, mas vai requerer esforços de longo tempo para acumular um conjunto de ;assinaturas; que não podem ser explicadas por nenhum processo abiótico conhecido, e que pode ser explicado pela possível presença de uma biosfera;, diz. Não é possível estimar quando isso acontecerá. De acordo com a Nasa, não antes de ;algumas décadas;.
Brasileiros encontram
A análise de 53 estrelas semelhantes ao Sol permitiu a uma equipe identificar, na Via Láctea, potenciais planetas rochosos com chances de serem habitáveis. O estudo, publicado na revista Monthly Noticies of Royal Astronomical Society, contou com a participação de cientistas da Austrália, dos Estados Unidos e da Europa e foi liderado por pesquisadores brasileiros.
O astrônomo Jorge Luis Melendez Moreno, professor do Departamento de Astronomia da Universidade de São Paulo (USP) e um dos autores do trabalho, explica que possíveis planetas semelhantes à Terra orbitando as estrelas estudadas não podem ser detectados ainda, por serem muito pequenos. Por isso, o foco foi seus possíveis sóis. ;Como planetas e estrelas nascem da mesma nuvem, a composição química da estrela deve refletir a composição da nuvem a partir da qual o planeta foi formado;, diz.
Usando o espectrógrafo Harps, instalado no Observatório de La Silla, do Observatório Europeu do Sul (ESO), os pesquisadores identificaram a presença de tório, um elemento que existe em planetas rochosos e está associado ao tectonismo. ;Um fator importante para um planeta ser potencialmente habitável é provavelmente a atividade geológica. Nesse sentido, o elemento tório é crucial, pois é uma fonte importante de energia, para manter o planeta ativo por bilhões de anos. Todas as estrelas estudadas apresentam um conteúdo de tório similar ou maior ao do Sol. Portanto, seus hipotéticos planetas rochosos devem ter uma capacidade similar ou maior à Terra de possuírem atividade geológica;, explica.