Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Cientistas observam relação entre consumo de azeite e prevenção de AVC

A ingestão do produto ao menos uma vez por semana protege de ataque cardíaco e derrame, mostra estudo americano com voluntários obesos

Um novo estudo traz indícios dos benefícios do consumo do azeite de oliva para o corpo. Dessa vez, o foco é a saúde do sangue. Em análise com indivíduos obesos, pesquisadores americanos observaram que aqueles que tinham o hábito de ingerir o produto pelo menos uma vez por semana mostraram redução na atividade plaquetária, um mecanismo essencial para a redução da coagulação sanguínea e, consequentemente, para a prevenção de doenças cardiovasculares. As descobertas foram divulgadas no Encontro de Epidemiologia e Prevenção da Associação Americana do Coração, nos Estados Unidos, realizado no início da semana, na cidade de Houston.

As plaquetas são fragmentos de células sanguíneas que se unem e formam aglomerados e coágulos quando são ativados. Os coágulos contribuem para o acúmulo de placa obstrutiva da artéria, conhecida como aterosclerose, uma condição subjacente à maioria dos ataques cardíacos e derrames. Os pesquisadores determinaram com que frequência 63 obesos, também não fumantes e não diabéticos, consumiam azeite de oliva. A idade média dos participantes era de 32,2 anos, e o índice de massa corporal (IMC) médio, 44,1.

A equipe descobriu que os voluntários que comiam azeite de oliva pelo menos uma vez por semana tinham menor ativação plaquetária do que os participantes que ingeriam quantidades menores ou não o consumiam. Além disso, os integrantes do primeiro grupo apresentaram níveis mais baixos de agregação plaquetária. ;As pessoas que são obesas correm maior risco de ter um ataque cardíaco, um derrame ou outro evento cardiovascular, mesmo que não tenham diabetes ou outras condições associadas à obesidade. Nosso estudo sugere que a escolha de comer azeite pode ter o potencial para ajudar a modificar esse risco;, reforça Ruina Zhang, estudante de medicina da Universidade de Nova York e uma das autoras do estudo.

Fausto Stauffer, coordenador de Cardiologia do Hospital Santa Lúcia Norte, em Brasília, acredita que o estudo mostra dados interessantes, apesar de a pesquisa ter sido feita com um número pequeno de participantes. ;Esse é um estudo observacional. Então, não nos permite garantir que o consumo de azeite de oliva está ligado à diminuição da agregação plaquetária. Fora o fato de que o grupo não era tão extenso e todos eram obesos. Ainda assim, vemos indícios que estão relacionados a pesquisas recentes;, frisa.

Segundo o médico brasileiro, estudos têm apontado que o consumo do azeite de oliva melhora a função dos vasos do endotélio, uma camada que ajuda a diminuir a oxidação do colesterol ruim. ;Também melhora a coagulação, além de diminuir o desenvolvimento do Alzheimer e até a ocorrência de alguns tipos de câncer, ou seja, ele se mostra extremamente benéfico ao organismo. Mas é claro que, se consumido em excesso, pode se tornar prejudicial;, alerta.


Aprofundamento

Os cientistas adiantam que mais estudos são necessários. Se comprovada a relação entre o azeite e a proteção sanguínea, acreditam que será possível desenvolver novas estratégias preventivas. A equipe também admite que o estudo tem limitações, como ter se baseado no relato dos participantes. ;Até onde sabemos, esse é o primeiro estudo a avaliar os efeitos da composição da dieta, especificamente do azeite de oliva, na função plaquetária em pacientes obesos. Ele pode abrir portas para pesquisas ainda mais detalhadas, que ajudem a entender essa relação entre o azeite e a prevenção da coagulação;, diz Zhang.

Stauffer também acredita que o estudo precisa ser aprofundado. ;É preciso usar grupos de perfis distintos e que seja escolhida de forma aleatória quem consumirá mais e quem consumirá menos azeite. Dessa forma, teremos uma comparação que esclareça os dados;, opina.

"Ele (o estudo) pode abrir portas para pesquisas ainda mais detalhadas, que ajudem a entender essa relação entre o azeite e a prevenção da coagulação;
Ruina Zhang, estudante da Universidade de Nova York e uma das autoras do estudo

Entenda a pesquisa

Cientistas americanos observaram relação entre consumo do azeite de oliva e prevenção de ataques cardíacos e AVC
1. 63 participantes obesos, não fumantes e não diabéticos tiveram a frequência com que consumiam azeite de oliva medida. Os voluntários tinham idade média de 32 anso e índice de massa corporal (IMC) médio de 44,1. Indivíduos cujo índice é superior a 30 são considerados obesos
2. Aqueles que comiam azeite de oliva pelo menos uma vez por semana apresentaram menor ativação plaquetária, comparados aos participantes que ingeriam menos o produto
3. Níveis mais baixos de agregação plaquetária também foram detectados naqueles que consumiam azeite com mais frequência
4. As plaquetas são fragmentos de células sanguíneas que se unem e formam aglomerados e coágulos. Esses coágulos contribuem para acúmulo de placa obstrutiva da artéria, conhecida como aterosclerose, a condição subjacente à maioria dos ataques cardíacos e derrames
5. Os cientistas adiantam que mais estudos são necessários para estabelecer mais claramente a relação entre ingestão de azeite de oliva e proteção cardiovascular. A aposta é de que os futuros dados ajudem no desenvolvimento de estratégias preventivas