Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Convívio social aumenta a longevidade e a qualidade de vida

Idosos que interagem com grupos diversos são mais propensos a praticar atividades físicas e a ter menos sentimentos negativos, mostra pesquisa americana. Esses benefícios funcionam como preventivos de doenças incidentes na terceira idade

Ter um círculo social variado e ativo pode fazer diferença na longevidade de idosos. Ao acompanhar mais de 300 homens e mulheres com ao menos 65 anos, cientistas da Universidade do Texas em Austin, nos Estados Unidos, descobriram que aqueles que passavam mais tempo interagindo com grupos diversos de pessoas eram mais propensos a serem fisicamente ativos e tinham maior bem-estar emocional. Segundo os autores, o estudo é o primeiro a vincular o envolvimento social à atividade física ao longo do dia e pode servir de inspiração para que, de alguma forma, os indivíduos que passaram da sexta década de vida se afastem do isolamento.

;É difícil convencer essas pessoas a irem à academia ou se dedicarem a treinar regularmente. Mas elas podem estar dispostas a entrar em contato com amigos, participar de um evento organizado em grupo ou conversar com o funcionário que as atende em seu clube favorito. Socializar nesses contextos também pode aumentar a atividade física e os diversos comportamentos de forma a beneficiar a saúde sem necessariamente se exercitar;, explica Karen Fingerman, professora de desenvolvimento humano e ciências da família da universidade e uma das autoras do estudo, publicado hoje, no Journals of Gerontology Series B: Psychological Sciences and Social Sciences.

Durante uma semana, Karen Fingerman e os colegas contabilizaram as atividades desempenhadas e a ocorrência de encontros sociais dos participantes a cada três horas. Idosos e idosas também usaram dispositivos eletrônicos para monitorar a prática de atividade física. Os cientistas estadunidenses observaram que, durante os períodos de três horas em que os voluntários estavam interagindo com uma variedade maior de parceiros sociais, eles participaram de uma diversidade maior de atividades, como sair de casa, caminhar, conversar e fazer compras. Também se envolveram em atividades físicas mais objetivas, mesmo os considerados sedentários.

Entre os participantes mais ativos socialmente, os cientistas detectaram ainda maior humor positivo e menos sentimentos negativos. Segundo Karen Fingerman, estudos anteriores mostram que laços próximos, entre familiares e amigos íntimos, podem funcionar como uma espécie de amortecedor contra o estresse, melhorando o bem-estar emocional na velhice. Não havia, porém, uma análise sobre os benefícios de relações mais periféricas e a prática de atividades físicas.


Sair de casa

A possibilidade de ser mais ativo ao passar por essas experiências é o efeito mais evidente. ;Esses adultos podem ser mais sedentários com seus amigos íntimos e familiares, ficando sentados, assistindo à tevê, descansando em casa. Mas para se envolver com outras pessoas, devem sair de casa ou pelo menos se levantar da cadeira para atender a porta;, ressalta a cientista. O impacto preventivo dessas interações também é claro, completa Karen Fingerman. ;Os adultos geralmente ficam menos ativos fisicamente e mais sedentários à medida que envelhecem, e esses comportamentos representam um fator de risco para doenças e morte.;

A coautora Debra Umberson, professora de sociologia e diretora da universidade americana, chama a atenção para a aplicabilidade dos resultados para além de mudanças individuais. Segundo ela, os dados inéditos captam tanto a quantidade quanto a qualidade dos contatos sociais que idosos têm ao longo do dia. Por isso, podem ser usados de uma forma ampla. ;Os resultados mostram que esses encontros rotineiros têm importantes benefícios para os níveis de atividade e psicológicos. Essa nova informação sugere a importância de políticas e programas que apoiem e promovam a participação social rotineira e informal;, defende.