Em um artigo publicado na revista Science Translational Medicine, a equipe, conduzida pela neurocirurgiã argentina Maria G. Castro, relata que a mutação IDH1 aumenta a sobrevida dos pacientes porque faz com que o tumor cresça mais lentamente. Porém, a variante também tem a habilidade de corrigir os danos causados pela radioterapia ao DNA das células cancerosas. Por isso, ao longo do tempo, o tratamento se torna inócuo.
Além da descoberta desse mecanismo, os cientistas dizem ter conseguido reverter o problema. Em camundongos, o uso de substâncias já aprovadas no mercado evitou que a IDH1 reparasse o efeito da radiação. Segundo os autores, o resultado do estudo abre perspectiva para o aumento da expectativa de vida de pacientes com gliomas que carregam a mutação. ;O maior desafio para pacientes de glioma de baixo grau (o menos agressivo) é que, depois do tratamento inicial com cirurgia e quimioterapia, o tumor sempre volta, e volta muito mais agressivo. Se pudermos intervir precocemente, antes que o tumor retorne, isso poderia ter um grande impacto nos pacientes;, afirma Maria G. Castro.
Sheri Holmen, pesquisadora do Instituto do Câncer Huntsman da Universidade de Utah, que não participou desse estudo, conta que o IDH1 é a mutação mais comum nos gliomas ; ao menos 80% dos tumores de baixo grau, além de outros tipos de câncer, apresentam a variante. Uma pesquisa prévia desenvolvida por ela e citada no artigo da equipe de Michigan, sugere que o gene mutante funciona como a ignição do glioma: ele seria o primeiro passo para o desenvolvimento do tumor que, de fato, se forma quando outros genes das células glia, presentes no cérebro, sofrem alterações. ;Ao compreender o mecanismo dessa mutação em particular (a IDH1), poderemos entender mais sobre a biologia da doença, explorando as vulnerabilidades dela e o desenvolvimento de novos alvos terapêuticos;, opina.
Estudos clínicos
No laboratório de Michigan, a equipe de pesquisadores liderados por Maria G. Castro criou um modelo de camundongo com glioma contendo três mutações: IDH1, p53 e ATRX. ;Nós elucidamos como o IDH1 interfere com os tratamentos e descobrimos uma pista de como passar por cima disso;, conta Petro R. Lowenstein, professor de biologia do desenvolvimento e coautor do trabalho. Para isso, os cientistas usaram uma droga que inibe o reparo do DNA alterado pela radioterapia. O tratamento foi positivo nos animais e em tecidos humanos retirados de pacientes de glioma.De acordo com Lowenstein, o Food and Drug Administration (FDA), órgão regulatório do setor de medicamentos dos Estados Unidos, já aprovou algumas substâncias que agem por essa via. ;Estamos trabalhando com alguns colegas para implementar uma nova série de estudos clínicos (com pacientes humanos) na nossa instituição, no futuro próximo;, conta Lowenstein. Segundo ele, a expectativa é de que a combinação entre esses medicamentos bloqueadores e a radioterapia evitem a recorrência do glioma.