Paris, França - A busca de "rajadas rápidas de rádio" (FRB, na sigla em inglês), um fenômeno de alta energia cuja origem ainda é um mistério, começa a dar frutos: astrônomos anunciaram, nesta quarta-feira (9/1), que detectaram mais de uma dúzia, incluindo uma que se repete.
Estas FRB são curtos impulsos de ondas de rádio, com alta energia, mas que duram apenas milésimos de segundo. Sua existência foi revelada em 2007, e desde então intrigam os astrofísicos.
O fenômeno parece ter origem longe da Via Láctea e emite, em milissegundos, tanta energia quanto o Sol em 10.000 anos. Mas a natureza desta fonte continua sendo desconhecida.
As primeiras FRB detectadas foram fenômenos pontuais. Até hoje foram detectadas cerca de 60. A maioria das teorias sobre sua origem evocavam incidentes cataclísmicos que terminaram com a destruição de sua fonte original, como a explosão de uma estrela que cria uma supernova ou a fusão de duas estrelas de nêutrons.
Mas em 2012 foi detectada uma sucessão de FRB cuja origem era a mesma, através do potente radiotelescópio de Arecibo, em Porto Rico.
Outros astrônomos anunciaram que foi detectada recentemente uma segunda série de FRB.
Eles afirmam que se originam a 1,5 bilhão de anos-luz da Terra, e talvez provenham de um "cúmulo denso", como restos de uma supernova, ou de um ponto próximo ao buraco negro central de uma galáxia, aponta Cherry Ng, da Universidade de Toronto, Canadá.
Para os 50 cientistas canadenses que participaram desta detecção, que é objeto de dois estudos publicados na revista científica britânica Nature, a descoberta desta segunda série de "rajadas rápidas de rádio" permite inferir que poderiam existir outras.
Com a ajuda do radiotelescópio CHIME, situado em Colúmbia Britânica, Canadá, e inaugurado em 2017, os pesquisadores também detectaram 12 FRB pontuais, em apenas três semanas de observação, quando o aparelho ainda não operava em sua velocidade máxima.
"Com a cartografia cotidiana do hemisfério Norte fornecida pelo CHIME, provavelmente encontraremos mais séries de FRB com o tempo", afirma em um comunicado Ingrid Stairs, da Universidade de Colúmbia Britânica, Canadá.
"No fim do ano, é possível que tenhamos encontrado mais 1.000 FRB", disse Deborah Good, da mesma universidade.
"Ainda não está claro se as fontes que geram as FRB repetitivas são diferentes das que aparentemente geram uma só. É possível que o que acreditamos que agora são FRB pontuais se repitam apenas raramente, mas provenientes da mesma fonte", indica Shriharsh Tendulkar, da Universidade McGill de Montreal, Canadá, coautor do estudo.