Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Câncer da superfície ocular pode se revelar em consultas de rotina

Doença pode acometer sobretudo fumantes e pessoas com exposição excessiva à radiação solar, porém, tratamento através de procedimento cirúrgico garante recuperação rápida

Cores, festas e decorações fazem parte da vida cotidiana da autônoma Ellen Paz, 43 anos. Recentemente, contudo, o horizonte se tornou nebuloso: uma ;carne; crescida nos olhos fez com que ela temesse perder a visão. A princípio, por não doer, nem incomodar, Ellen decidiu esperar o dia da visita de rotina ao oftalmologista. Foi quando, para sua surpresa, descobriu a suspeita de um tumor maligno e foi encaminhada para tratamento cirúrgico.

;A gente sempre acha que só acontece com os outros. Tive medo de não conseguir mais enxergar. Meus olhos são muito importantes, eles são tudo. Com eles eu vejo a natureza, a minha filha... e consigo fazer meu trabalho;, exalta a autônoma, que trabalha com produção de festas. Hoje, passados quase dois meses de cirurgia, Ellen define o caso como um sucesso. A paciente afirma que teve que usar um tampão no olho direito por apenas 24 horas. ;Usei uma lente de contato por duas semanas, colocada durante a cirurgia para ajudar na cicatrização. Meu olho não inflamou, em pouco tempo eu conseguia olhar a luz sem queixas. Por ter olhos verdes, sempre fui muito sensível à luz do sol;, explica.

Assim como a autônoma, vários pacientes já foram consultados e diagnosticadas no consultório da médica oftalmologista Cecília Cavalcanti, responsável pelo tratamento de Ellen. A médica, formada em oftalmologia pela Fundação Altino Ventura - FAV e especialista em oncologia ocular pela Universidade Federal de São Paulo UNIFESP-EPM, trabalha atualmente na FAV e no Hospital de Olhos de Pernambuco (HOPE), lugar onde foi realizada a cirurgia de Ellen Paz. Ela afirma que, por vezes, o câncer da superfície ocular pode ser assintomático e, por isso, se faz tão importante que as pessoas compareçam a consultas oftalmológicas regularmente.

;A doença pode ser visível ou silenciosa. Alguns pacientes são assintomáticos, de modo que o problema só é percebido nos exames de rotina. Outros conseguem ver lesões, manchas escuras e até tumorações;, conta a especialista. Irritação ocular, sangramento, acúmulo de secreção e lacrimejamento são alguns dos sintomas que podem acometer um paciente com câncer na superfície ocular.

A médica explica que o tratamento, na maioria das vezes, é feito por intervenção cirúrgica. Normalmente, as lesões que são de tamanho pequeno a médio passam por uma biópsia excisional, a fim de remover a lesão por completo e com segurança. Em caso de tumores de maiores proporções, pode ser utilizada a quimioredução ; quando colírios de quimioterapia são aplicados para reduzir o tamanho da lesão e assegurar o sucesso da cirurgia.

Entre os fatores de risco para desenvolvimento desse tipo de câncer, destaca-se o tabagismo: pacientes fumantes ou que fumaram há muito tempo têm uma predisposição maior a desenvolver a doença. Além deles, pacientes que sofrem exposição excessiva aos raios ultravioletas, bem como idosos e pacientes imunodeprimidos ou que façam uso de medicação que enfraqueça o sistema imunológico.

;Quando falo que trabalho com oncologia ocular, muita gente me pergunta se não fico deprimida, chorando em casa... Claro que eu sofro junto com meus pacientes, mas o que eu entendo é que um único caso bem sucedido já vale tudo. É impagável", afirma Cecília.