Um dos problemas de saúde que mais acometem a população é a hipertensão ; são 600 milhões de hipertensos no planeta, estima a Organização Mundial da Saúde (OMS). Para evitar e amenizar o problema, especialistas indicam monitorar a pressão arterial. Cientistas dos Estados Unidos desenvolveram um aplicativo capaz de facilitar o cuidado. Ele permitirá esse controle por meio do toque em um smartphone. Apresentada na edição desta semana da revista Science Translational Medicine, a tecnologia teve resultados promissores nos testes iniciais.
;Nós estamos estudando o princípio oscilométrico, que é usado pelos dispositivos de medição da pressão de sangue de forma automática, desde 2011. Publicamos vários livros sobre melhorias para dispositivos de punho. O trabalho de agora tenta estender esses dados;, conta ao Correio Ramakrishna Mukkamala, um dos autores do estudo e pesquisador da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos.
O dispositivo consiste em uma caixa impressa em 3D para ser acoplada ao telefone. Ela contém um sensor óptico em camadas sob um sensor de força. Quando o usuário toca nos sensores, fornece a pressão na artéria no dedo que é mensurável, da mesma maneira que um aparelho usual de pressão sanguínea avalia uma artéria no braço. As leituras da pressão arterial diastólica (a pressão mínima) e a sistólica (a máxima) são, então, calculadas pelo aplicativo baixado no smartphone.
Um grupo de 30 pessoas participou de testes para avaliar a usabilidade e a eficácia da tecnologia. Ambas as avaliações foram positivas: cerca de 90% das pessoas conseguiram posicionar o dedo corretamente e obter leituras consistentes da pressão arterial após uma ou duas tentativas.
Para os criadores, o dispositivo poderá ajudar a vencer um dos obstáculos do combate à hipertensão. ;Muitas pessoas têm pressão alta e não sabem. Acreditamos que a razão disso é o fato de elas não terem interesse ou meios de medi-la. Um dispositivo de medição baseado em smartphones, que são usados constantemente, pode ajudar as pessoas a ter conhecimento sobre sua condição e, dessa forma, ajudar a mitigar a incidência da doença cardiovascular;, destaca Mukkamala.
Segundo Lázaro Fernandes de Miranda, cardiologista do Hospital Santa Lúcia e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia, seção Distrito Federal (DF), além de ajudar na detecção de pessoas que não sabem que têm a doença, a tecnologia poderá contribuir para o acompanhamento de hipertensos diagnosticados. ;Nem todos realizam tratamento e poucos países conseguem ter um controle dessas pessoas. Nações como o Canadá, que tem uma política voltada para a pressão arterial, têm um dos maiores resultados, entre 44% e 50% de hipertensos monitorados. Já no Brasil, nosso maior índice foi de 19%;, compara.
Novos testes
Mukkamala ressalta que um dos grandes trunfos do novo dispositivo é o fato de ele poder ser instalado, de maneira prática, em celulares inteligentes.;Seria possível incorporar a tecnologia a smartphones, incluindo os já usados pelos pacientes, se houver proteção contra choques e impactos de outras formas, o que reduziria os custos;, explica. Segundo ele, a intenção da equipe é conduzir um teste adicional do dispositivo em uma população mais diversa.
Para Miranda, mais testes são bem-vindos, a fim de abordar outros fatores ligados à hipertensão. ;Nessa pesquisa, foram analisados indivíduos com idade entre 29 e 44 anos, e esses dados não podem ser transferidos para uma pessoa de 80, 90 anos, por exemplo, em que a artéria endurece com o passar do tempo. Outro ponto é que a maioria dos participantes era mulher, o que pode ser uma variável importante, pode mudar resultados;, pontua.
Segundo o cardiologista, outro ponto que merece destaque é a forma de uso da tecnologia. ;É necessário mostrar para as pessoas como utilizar da forma correta, para que possa atingir a população em geral, o que permitiria chegar a mais pessoas que não sabem que têm esse problema de saúde;, explica. ;Outro ponto que os cientistas ainda não revelaram é o custo, que precisa ser acessível, pois, dessa forma, também poderá ser usado sem obstáculos.;
"Seria possível incorporar a tecnologia a smartphones, incluindo os já usados pelos pacientes, se houver proteção contra choques e impactos de outras formas, o que reduziria os custos;
Ramakrishna Mukkamala, pesquisador da Universidade de Michigan e um dos criadores do dispositivo