Ciência e Saúde

Camada de ozônio se recupera, mas melhora ainda é irregular

A recomposição do filtro que protege o planeta tem ocorrido nos polos da Terra, mas não nas latitudes mais baixas, que são áreas populosas. As mudanças climáticas podem estar por trás dessa irregularidade

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 07/02/2018 08:00
Cientistas  revelaram que o ozônio estratosférico não está se recuperando nas baixas latitudes

A camada de ozônio ; que protege o planeta da perigosa radiação ultravioleta ; está se recuperando nos polos, mas o mesmo não vem ocorrendo em latitudes baixas, que são as áreas mais populosas. Desde a década de 1970, o ozônio entrou em declínio devido à alta concentração de alguns produtos químicos. Com a proibição dessas substâncias, partes da camada vêm se recompondo, particularmente nos extremos da Terra. Porém, segundo um estudo da União Europeia de Geociências publicado na revista Chemistry and Physics, a base da camada de ozônio não se recuperou, e a causa desse fenômeno é desconhecida.

O ozônio é uma substância formada na estratosfera, a região da atmosfera entre 10km e 50km de altitude, acima da troposfera, onde vivemos. Ele é produzido em latitudes tropicais e distribuído ao redor do globo. Uma grande porção da camada da substância reside na parte baixa da estratosfera. A camada de ozônio absorve muito da radiação do Sol, que, se alcançar a superfície da Terra, pode causar danos ao DNA das plantas, dos animais e dos humanos.

Nos anos de 1970, foi reconhecido que químicos chamados CFCs, usados, por exemplo, em refrigeração e aerosol, estavam destruindo o ozônio na estratosfera. O efeito era pior na Antártida, onde se formou um buraco. Em 1987, o Protocolo de Montreal foi assinado, levando à extinção dos CFCs. Recentemente, surgiram os primeiros sinais de recuperação na região do polo. A estratosfera superior a baixas latitudes também está mostrando claros sinais de recuperação, mostrando que o protocolo foi importante.



[SAIBAMAIS]Contudo, apesar desse sucesso, os cientistas europeus revelaram que o ozônio estratosférico não está se recuperando nas baixas latitudes, entre 60 Norte e 60 Sul, devido a declínios inesperados na camada que se localiza na parte baixa da estratosfera. ;O ozônio vem caindo seriamente no mundo desde 1980, mas, enquanto o banimento dos CFCs está levando a uma recuperação nos polos, o mesmo não parece ser verdade para baixas latitudes;, afirma Joanna Haigh, coautora do trabalho e codiretora do Instituto de Mudanças Climáticas e Ambientais do Imperial College Londres. ;O potencial para provocar danos nas latitudes baixas pode ser menor do que vimos nos polos antes de o Protocolo de Montreal ser assinado, mas a radiação UV é mais intensa nessas regiões e mais pessoas vivem aí;, observa.

A causa desse declínio não é certa, embora os autores sugiram algumas possibilidades. Uma é o fato de as mudanças climáticas estarem alterando o padrão da circulação atmosférica, fazendo com que mais ozônio seja levado dos trópicos. A outra possibilidade é que substâncias de vida muito curta (VSLSs, pela sigla em inglês), que contêm cloro e bromo, estejam destruindo o ozônio na baixa estratosfera. Os VSLSs incluem químicos usados como solventes e tintas. Um deles é utilizado, inclusive, para substituir os CFCs em produtos ;ozônio-friendly; (amigos da camada de ozônio).

A recomposição do filtro que protege o planeta tem ocorrido nos polos da Terra, mas não nas latitudes mais baixas, que são áreas populosas. As mudanças climáticas podem estar por trás dessa irregularidade

Surpresa

;A descoberta do declínio de ozônio na baixa latitude é uma surpresa, já que nossos melhores modelos de circulação atmosférica não predizem esse efeito. Substâncias de vida muito curta podem ser o fator que falta nesses modelos;, acredita William Ball, pesquisador do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique que liderou a análise dos dados. Acreditava-se que essas substâncias não persistiriam muito na atmosfera a ponto de alcançar a altura da estratosfera e afetar o ozônio, mas, agora, mais pesquisa terá de ser feita.
Para conduzir a análise, a equipe desenvolveu novos algoritmos que combinam dados de satélite obtidos por diferentes missões internacionais, desde 1985. ;O estudo é um exemplo de um esforço concentrado para monitorar e entender o que está acontecendo com a camada de ozônio;, observa Ball.

Embora alguns bancos de dados tenham apontado previamente para o declínio do ozônio, a aplicação de técnicas avançadas e análises seriais revelou um padrão de longo prazo na queda do ozônio em altitudes e longitudes mais baixas da estratosfera. Os pesquisadores dizem que o foco, agora, deveria ser conseguir dados mais precisos sobre esse declínio e determinar o que provavelmente está provocando o fenômeno, por exemplo, examinando a presença de VSLSs na estratosfera.

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