;A indústria parece ter deixado os adultos de lado e, agora, está focando mais os jovens. As pesquisas mostram que o cigarro eletrônico é uma forma de iniciação. Os mais novos não vivenciaram o boom da campanha antitabagista e se tornaram alvo dos fabricantes. Esses cigarros eletrônicos têm vários sabores diferentes, e isso é uma estratégia para iniciar os jovens;, explica a especialista, que é preceptora da residência de psiquiatria do Hospital de Base na área de dependência química. Entre os quase 8 mil sabores artificiais existentes, alguns parecem especialmente atraentes aos jovens, como de uma balinha muito popular entre as crianças (gummy bear), cupcake, algodão-doce, cereais e chocolate.
No relatório divulgado ontem, os especialistas destacam que 33,8% dos estudantes de ensino médio já usaram esse tipo de cigarro nos Estados Unidos. A incidência no 10; ano do ensino fundamental (correspondente ao 9; brasileiro) é de 29%. Os estudos avaliados pelos cientistas mostraram que a probabilidade de os jovens que já usaram o cigarro eletrônico evoluírem para o tabagismo convencional é de 23,2% (com resultados variando de 40,4% a 8,8%, dependendo da pesquisa). Já o risco de começar a fumar entre os que jamais utilizaram esse dispositivo é de 7,2% (variação de 3% a 10,6%)
No Brasil, o cigarro eletrônico não pode ser comercializado, pois a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proíbe a venda e a importação de dispositivos eletrônicos para fumar. No ano passado, a Associação Médica Brasileira (AMB) enviou um documento ao órgão regulador apoiando a manutenção da proibição. ;Ainda que não haja combustão do tabaco, esse produto não é inócuo, como erroneamente vem sendo anunciado. Nesse produto, a nicotina encontra-se na forma líquida, sendo aquecida, aspirada e também liberada no meio ambiente sob a forma de vapor, imitando, do ponto de vista comportamental, o cigarro convencional e carregando substâncias tóxicas para as vias respiratórias e o sistema cardiovascular;, advertiram Antônio Pedro Mirra, da Comissão de Combate ao Tabagismo e Florentino de Araújo Cardoso Filho, então presidente da AMB. Contudo, apesar da proibição da Anvisa, o produto é facilmente encontrado à venda, principalmente pela internet.
Questão complexa
Em nota, David Eaton, presidente da comissão que elaborou o relatório norte-americano, afirmou que a discussão sobre os cigarros eletrônicos não é simples. ;Os e-cigarros não podem ser simplesmente categorizados como benéficos ou perigosos. Em algumas circunstâncias, como quando usados por adolescentes e jovens adultos, seus efeitos adversos claramente levantam preocupação. Em outros casos, como os de adultos fumantes que os usam para parar de fumar, eles oferecem uma oportunidade de reduzir as doenças relacionadas ao tabagismo.;
A declaração de Eaton, porém, não significa que o painel de especialistas dá aval ao cigarro eletrônico. Reduzir danos significa que ;dos males, o menor;. Se por um lado, quando o fumante troca o produto convencional pelo eletrônico, a exposição a substâncias tóxicas e carcinogênicas diminui, por outro, o relatório mostra que as evidências de que ele ajuda a abandonar de vez o vício são limitadas (há alguns estudos que dizem que sim, e outros que não).
A psiquiatra Helena Moura afirma que, no caso de quem, de fato, quer parar de usar qualquer produto com tabaco, não há por que recorrer ao cigarro eletrônico. ;Existem produtos, como adesivos e medicamentos, que são comprovadamente seguros para esse fim. Para que usar o cigarro eletrônico como tratamento? Além disso, há muitas evidências de que ele pode causar recaídas: o ex-fumante que usa cigarro eletrônico corre o risco de voltar a fumar;, observa.
;Os mais novos não vivenciaram o boom da campanha antitabagista e se tornaram alvo dos fabricantes. Esses cigarros eletrônicos têm vários sabores diferentes, e isso é uma estratégia para iniciar os jovens;
Helena Moura, especialista em dependência química e preceptora da residência de psiquiatria do Hospital de Base