Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Estudo revela semelhanças entre Neandertais e Homo sapiens

Análise do fóssil de uma criança morta aos 7,7 anos indica uma taxa de crescimento lenta, semelhante ao que ocorre com o homem moderno. O resultado do trabalho reforça novas teorias que minimizam a diferença entre as duas espécies


Em trabalho publicado na revista Science, cientistas do Conselho Nacional de Pesquisa da Espanha aproximam mais ainda o neandertal do homem moderno. Ao analisar os restos mortais do esqueleto bem preservado de uma criança da espécie extinta, os cientistas descobriram como era o padrão de desenvolvimento físico do Homo neanderthalensis. Diferentemente do que já foi sugerido, a taxa de crescimento da espécie era extremamente similar à nossa.

;Entender as diferenças e semelhanças no padrão de crescimento de neandertais e homens modernos nos ajuda a definir nossa própria espécie;, disse, em uma teleconferência de imprensa, o paleontólogo Antonio Rosas, do Museu de Ciências da Espanha e principal autor do trabalho. O também paleontólogo Luis Ríos, que participou do estudo, acrescentou: ;Do ponto de vista dos métodos de avaliação de crescimento de uma criança, essa criança neandertal não é diferente de uma criança moderna;.

Os neandertais tinham um volume craniano bem maior que o do homem moderno. Quando adultos, seu crânio alcançava 1.520 centímetros cúbicos, enquanto que no Homo sapiens essa medida é de 1.195. No momento da morte, a criança já havia alcançado 1.330 centímetros cúbicos, o que significa que 87,5% do volume estava constituído aos 7,7 anos de idade.

Nessa faixa etária, o desenvolvimento da capacidade craniana de uma criança de hoje já está completamente completo. ;Desenvolver um crânio grande envolve significativo gasto energético e, consequentemente, isso dificulta o crescimento de outras partes do corpo. Nos sapiens, o desenvolvimento do cérebro durante a infância ocorre a um grande custo energético e, como consequência, o desenvolvimento do resto do corpo é mais demorado;, explicou Antonio Rosas.

Segundo os pesquisadores, a taxa de desenvolvimento da criança neandertal estudada está de acordo com as características da ontogenia humana, onde há uma demora no crescimento até a puberdade. ;De fato, o esqueleto e a dentição desse neandertal apresentam uma fisiologia semelhante à de um sapiens da mesma idade, exceto pela área torácica, que corresponde à de uma criança entre 5 e 6 anos, ou seja, é menos desenvolvida. O crescimento da nossa criança neandertal não estava completo, provavelmente para poupar energia;, disse Rosas.
De acordo com ele, o único aspecto divergente no desenvolvimento das duas espécies é o momento da maturação da coluna vertebral. Em todos os hominíneos, as juntas cartilaginosas da vértebra torácic a média e o atlas são os últimos a se fundir. Mas, na criança estudada, essa fusão ocorreu cerca de dois anos depois. Segundo Luis Ríos, o atraso pode indicar alguns aspectos ainda desconhecidos que caracterizavam a transição da infância à juventude no neandertal. ;Embora as implicações sejam desconhecidas, essa característica pode estar associada ao formato do tórax mais alargado dessa espécie ou a um desenvolvimento cerebral mais lento.;