O professor de Ciência Atmosférica James Elsner, da Universidade Estadual da Flórida, argumenta que, "em nível mundial, observamos que nesses últimos 30 anos as tempestades mais fortes ganharam força, devido ao aquecimento dos oceanos". Os especialistas também dispõem de um acompanhamento em nível mundial dos oceanos, cujo nível aumentou em média 20 cm desde os anos 1880 e o início da Revolução Industrial.
"Sabemos que o nível do mar sobe e que continuará subindo com as mudanças climáticas", argumenta o especialista em furacões Chris Holloway, da Universidade inglesa de Reading. Este aumento intensifica a capacidade destruidora dos furacões, ao reforçar as ondas que agravam as inundações.
Até os polos
Embora haja evidências razoáveis, esses argumentos não são medidas diretas sobre os furacões e, por isso, os cientistas dizem que os estudos ainda não são conclusivos. "A maior intensidade das tempestades é uma consequência esperada das mudanças climáticas, mas é muito cedo para dizer que esse furacão em particular foi reforçado por este fenômeno", disse Mitchell, referindo-se ao Irma.
Os cientistas não têm dados suficientes, porque os superfuracões - de categoria 4, ou 5, na escala de Saffir-Simpson - são pouquíssimo habituais se comparados com as ondas de calor, ou com as secas. Uma amostra tão pequena impede estabelecer tendências, sobretudo, ao se considerar que os dados sobre furacões são apenas de algumas décadas.
Além disso, trata-se de "fenômenos ;ruidosos;", segundo Mitchell. Isso significa que é necessário poder diferenciar entre os "ruídos" das flutuações meteorológicas naturais e os sinais de mudanças climáticas. "É como tentar escutar alguém que está sentado ao seu lado, enquanto toca uma música de fundo a todo o volume", ilustra Sally Brown, pesquisadora da Universidade de Sothampton, na Grã Bretanha.
"Eu teria que pedir a ela que repetisse várias vezes o que disse para ter certeza de que eu entendi", completou. Apesar dessas limitações, os cientistas conseguiram medir algumas tendências, destacando, especialmente, o trabalho do pesquisador Jim Kossin, da Agência Americana Oceânica e Atmosférica (NOAA, na sigla em inglês).
Em 2014, Kossin demostrou de maneira irrefutável que, há pelo menos 30 anos, todos os ciclones tropicais no mundo se aproximam dos polos, a um ritmo de 50 a 60 km por década. Algo que pode se dar apenas pelas mudanças climáticas, segundo este especialista.
"Os dados históricos são escassos, a maioria limitada ao Atlântico, e não são muito bons", resume Kerry Emanuel, do MIT de Boston. "A genialidade de Kossin consistiu em descobrir que a latitude das tempestades em seu ponto crítico era facilmente detectável", comentou.