A camada de ozônio, que protege a Terra dos raios UV, em lenta recuperação desde que o Protocolo de Montreal de 1987, que proibiu produtos químicos que a corroem, pode estar em perigo de novo, alertaram cientistas nesta terça-feira (27/6).
Os níveis de diclorometano, um produto químico não coberto pelo pacto de restauração do ozônio, estão aumentando rapidamente na estratosfera e podem retardar a recuperação da camada, afirmaram os cientistas.
Embora "atualmente modesto, o impacto do diclorometano no ozônio aumentou acentuadamente nos últimos anos", informou uma equipe na revista científica Nature Communications.
"O crescimento sustentado de diclorometano neutralizaria alguns dos ganhos alcançados pelo Protocolo de Montreal, atrasando ainda mais a recuperação da camada de ozônio da Terra", acrescentou.
A camada fica na estratosfera entre 10 e 50 quilômetros acima da superfície da Terra, onde filtra a luz ultravioleta prejudicial que pode causar câncer e danificar as colheitas.
O acordo de Montreal eliminou a produção de clorofluorocarbonetos (CFCs) em geladeiras, aerossóis, ares-condicionados e espumas quando se descobriu que estes compostos eram responsáveis %u200B%u200Bpelo chamado "buraco" na camada de ozônio.
Na década de 1990, os CFCs foram substituídos por hidrofluorocarbonetos (HFCs), que eram seguros para o ozônio mas também altamente eficazes para reter calor na atmosfera, contribuindo para o aquecimento global.
Em outubro de 2016 foi adotada uma emenda ao pacto para eliminar os HFCs.
Os cientistas já levantaram preocupações sobre o impacto potencial no ozônio dos produtos químicos artificiais chamados de "substâncias de vida muito curta" (VSLS), como o diclorometano.
O novo estudo procurou quantificar a ameaça do diclorometano, que é usado como solvente em decapantes de tinta e como desengordurante, e também para descafeinar o café.
Os pesquisadores descobriram que os níveis de diclorometano na estratosfera quase duplicaram desde 2004.
Um crescimento adicional poderia retardar a recuperação do ozônio sobre a Antártica, onde a destruição da camada foi mais grave, em mais de uma década.
E os autores observaram que outros VSLS também foram detectados na atmosfera, mas ainda não foram medidos.
Especialistas não envolvidos no estudo saudaram sua contribuição para entender o que está acontecendo com a camada de ozônio.
"Nós devemos agir agora para impedir a liberação (do diclorometano) para a atmosfera, a fim de evitar desfazer mais de 30 anos de trabalho exemplar de ciência e políticas que, sem dúvida, salvou muitas vidas", disse Grant Allen, físico atmosférico da Universidade de Manchester.
Para David Rowley, da University College London, o trabalho mostrou que proteger a camada de ozônio "apresenta um desafio industrial e político muito maior do que se pensava anteriormente".