Carmen Souza
postado em 29/03/2017 06:03
Bill Kochevar segurou uma caneca d;água, a levou aos lábios e tomou com canudinho. Seus movimentos eram lentos e deliberados, mas é preciso considerar que, há oito anos, o homem não movimentava o braço e a mão. Paralisado abaixo dos ombros depois de um acidente de bicicleta, Kochevar, 56 anos, é a primeira pessoa com tetraplegia em todo o mundo a ter os movimentos restaurados com a ajuda de dois implantes temporários, que se baseiam na tecnologia de interface cérebro-máquina.
[SAIBAMAIS]"Para alguém que está há oito anos lesionado e não podia se mexer, ser capaz de mover a mão e o braço apenas um pouco já é extraordinário", diz o morador de Cleveland (EUA). O paciente da Universidade de Case Western Reserve teve seu caso relatado em um artigo publicado, ontem, na revista The Lancet. "Ele realmente é um exemplo inovador para a comunidade de pacientes com lesões na medula espinal", observa Bob Kirsch, chefe do Departamento de Engenharia Biomédica da universidade e principal investigador. ;Esse é um passo fundamental rumo ao restabelecimento de alguma independência;, comenta, lembrando que, quando perguntadas, pessoas tetraplégicas afirmam que sua prioridade é conseguir se coçar ou fazer outros movimentos simples com o braço e a mão.
A tecnologia consiste em uma interface cérebro-computador, composta por eletrodos implantados no crânio de Kochevar e ligados a um sistema de estimulação elétrica funcional (EEF), que reconecta o cérebro aos músculos paralisados. Quando ele imagina um movimento, essa intenção é captada pelos eletrodos, que enviam o sinal à máquina. Por sua vez, o EEF manda estímulos aos músculos, para que se movam. ;Ao pegar os sinais gerados quando Bill tenta se movimentar e os usando para controlar a estimulação de seu braço e de sua mão, ele foi capaz de desempenhar funções pessoais importantes;, conta Bolu Ajiboye, que assina o artigo.
A pesquisa com Kochevar é parte do teste clínico piloto BrainGate2, que está sendo conduzido por um consórcio de acadêmicos e de instituições tecnológicas para testar o sistema de interface em pessoas com paralisias. Outro estudo do projeto mostrou, por exemplo, que é possível controlar um cursor na tela de um computador ou um braço robótico. ;A esperança para essas pessoas é restaurar a função. Esperamos que esse trabalho comece a recuperar a esperança de milhões de indivíduos paralisados de que, um dia, eles conseguirão se mover livremente de novo;, afirma Benjamin Walter, professor de neurologia e pesquisador do BrainGate2.