Tratar a inflamação crônica dos músculos e tendões do cotovelo com métodos não invasivos pode ser tão eficaz quanto a cirurgia que corrige o problema. De acordo com um estudo apresentado na reunião anual da Sociedade Ortopédica Norte-Americana de Medicina do Esporte, a reabilitação física tem efeito semelhante na percepção de dor dos pacientes, comparados àqueles que se submeteram ao procedimento cirúrgico. O trabalho, contudo, foi feito com um número pequeno de pessoas, observaram os autores.
A epicondilite lateral, popularmente chamada de cotovelo de tenista, é uma condição que afeta até 3% da população, independentemente de sexo. As faixas etárias dos 40 e 50 anos são onde há mais ocorrência de lesão, explica o ortopedista Alexandre F. Paniago, da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia e da Sociedade Americana de Cirurgiões Ortopédicos. O médico esclarece que essa patologia é provocada por microlesões nos tendões. Ao tentar curá-las, o organismo desencadeia um processo inflamatório que pode se tornar crônico. ;É como uma ferida aberta. Toda vez que a pessoa tentar movimentar o braço, ela vai criar mais lesões;, observa.
[SAIBAMAIS]A primeira fase do tratamento, segundo Paniago, inclui imobilização por pouco tempo, uso de anti-inflamatórios (o gelo é o melhor deles), medicamento oral e local. Em seguida, o paciente é encaminhado à fisioterapia, que vai ajudar a tirar a dor e aumentar a flexibilidade dos tendões e músculos. ;Oitenta por cento melhora com esse tratamento. As lesões traumáticas são mais fáceis de tratar do que as degenerativas. Nós fazemos tudo para não operar, mas há casos em que o paciente só melhora com a cirurgia;, observa.
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No estudo apresentado no congresso norte-americano, investigadores do Instituto de Pesquisa Ortopédica de Sydney, na Austrália, avaliaram a evolução de dois grupos compostos por 13 pessoas, cada um, que foram submetidas tanto à cirurgia quanto a uma falsa operação. Todas elas sentiam dor havia mais de seis meses e tinham tentado abordagens como fisioterapia, acupuntura e enfaixamento, sem sucesso. Para que nem pacientes nem médicos soubessem qual o procedimento usado, todos os participantes receberam uma incisão no braço. Em metade deles, foi feita a cirurgia aberta, que consiste na retirada do tecido morto; na outra metade, o cirurgião apenas fez o corte, sem mexer na lesão. Os pesquisadores que conduziram o estudo não ficaram sabendo quais, de fato, operaram.
Depois do experimento, os pacientes tinham de completar questionários indicando frequência e severidade da dor em repouso e em atividade, além de dificuldade para segurar e girar objetos. ;Nossos dados mostraram que ambos os grupos tiveram melhora significativa 26 semanas depois, especialmente na questão da dor;, conta Martin Kroslak, principal autor do estudo. ;Os participantes foram acompanhados de um a quatro anos depois e, mesmo nesse período, não teve diferença no resultado;, observa. Os 26 pacientes entraram em um programa pós-cirúrgico, que incluiu aplicação de gelo e alongamentos.
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Kroslak lembra que o número de participantes foi muito pequeno e que, para verificar se realmente a cirurgia pode ser evitada, seria necessário incluir uma quantidade bastante superior de pacientes. Ele destaca, porém, a necessidade de se continuar a investigar opções não invasivas. ;Acredito que nosso trabalho evidencia os desafios de se traçar um plano de tratamento para uma quantidade significativa da população ativa que enfrenta esse problema;, diz.
Para o servidor público Neisser Cardoso Minervino, 58 anos, a cirurgia foi a única maneira de tratar um problema que o acompanhou por um ano. Ele não sabe o que desencadeou a epicondilite no braço direito, mas, em 2015, começou a sentir uma dor constante, que dificultava seus movimentos. ;Fiz fisioterapia, deu certo e a dor sumiu totalmente;, conta. Porém, no ano seguinte, voltou pior. ;Era insuportável. Eu não conseguia passar a mão pela cabeça, não conseguia escovar os dentes. Pedi pelo amor de Deus para ser operado;, conta.
Em maio do ano passado, o médico avaliou que era hora de Neisser encarar a cirurgia. Os primeiros quatro meses de recuperação foram bastante sofridos. O servidor chegou a ficar com dois dedos dormentes. A dor do cotovelo passou para o antebraço. Porém, vencido esse período, ele recuperou a função do braço e não sentiu mais desconforto. ;Não me arrependo nenhum pouco de ter feito a cirurgia. Não sinto mais nada;, comemora.