O líder da pesquisa, Sukhvinder Obhi, explica que o objetivo era descobrir se o uniforme em si pode ter um impacto na percepção das outras pessoas, independentemente de outros aspectos da cultura policial, como treinamento ou experiências de trabalho.
O professor de psicologia, neurociência e comportamento ressalta também a importância de entender o fenômeno no contexto de sociedades com altos índices de problemas com violência e abuso policial. "Sabemos que, em geral, a polícia faz um trabalho excelente, mas também houve uma quantidade enorme de comoção pública sobre o policiamento tendencioso na América do Norte nos últimos anos", afirma.
Moletom e capuz
Ao longo de uma série de experimentos, os pesquisadores monitoraram em que se concentrava a atenção dos participantes - todos estudantes universitários, sendo que uma parcela usava uniformes similares aos da polícia. Em um dos testes, por exemplo, os participantes tinham que identificar uma forma simples na tela do computador enquanto eram expostos a "distrações", como imagens de rostos masculinos brancos, rostos masculinos negros, pessoas vestidas de ternos e outras vestidas de moletom. Os pesquisadores rastrearam e analisaram os tempos de reação para comparar o quanto os voluntários eram distraídos pelas imagens.
As diferenças de atitude se revelaram quando os participantes foram expostos a fotos de indivíduos usando moletom com capuz. A pesquisa mostrou que, para os voluntários uniformizados, essas imagens chamavam mais a atenção do que para os demais os participantes. "O moletom com capuz se tornou, em alguma extensão, um símbolo de posição social baixa. Existe um estereótipo que relaciona capuz com crime e violência, e esse estereótipo pode ser ativado em um nível mais alto com o uso de uniforme estilo policial", explica Obhi.
Considerando que a atenção é um dos critérios de definição para o modo como o ser humano experimenta o mundo, vieses de atenção em relação a certos grupos podem ser problemáticos, prossegue o autor. Para Obhi, isso é especialmente relevante no contexto de policiais, que podem, inconscientemente, perceber ameaças onde não existem, ou a situação inversa.
Os pesquisadores se surpreenderam ao descobrir que não havia diferença de atitude ou de perfilagem racial quando as imagens mostradas eram rostos brancos ou negros. Segundo eles, pesquisas prévias, principalmente nos Estados Unidos, revelaram que muitas pessoas associam afro-americanos com criminalidade. Para os cientistas, mais pesquisas são necessárias para explorar a questão.
Uma continuação do estudo já está em andamento. A pesquisa inicial foi publicada na revista Frontiers in psychology.
*Estagiária sob supervisão do editor Humberto Rezende.