Ameaçadas por pesticidas, mudanças climáticas e destruição de habitats, os polinizadores, em especial, as abelhas produtoras de mel, enfrentam um outro inimigo, recém-identificado por um consórcio de pesquisadores. Um artigo publicado no jornal Scientific Reports, do grupo Nature, destaca que um vírus batizado de Moku, em referência à ilha havaiana onde foi isolado, pode dizimar populações desse inseto essencial para diversos serviços agrícolas e ecológicos. O micro-organismo é transmitido por uma espécie de vespa invasora, a Vespula pensylvanica.
;Está ficando evidente que insetos que interagem com abelhas produtoras de mel podem agir como reservatórios virais e infectá-las. Além disso, a introdução de espécies invasoras por meio de processos antropogênicos oferecem a oportunidade de novos hospedeiros, com seu próprio repertório de vírus, serem introduzidos em populações previamente isoladas, como as do arquipélago havaiano;, descreveram os autores do artigo. A Vespula pensylvanica é nativa de algumas regiões da América do Norte, especialmente em zonas temperadas do Canadá e dos Estados Unidos. Nas últimas décadas, a espécie foi introduzida no Havaí, provocando diversos desequilíbrios ecológicos. A vespa já era considerada uma ameaça às abelhas por se alimentar delas, mas ainda não se sabia que, escondido na predadora, reside um perigoso inimigo.
Agora, uma equipe de pesquisadores do Instituto Earlham, da Inglaterra, e da Associação de Biologia Marinha, dos EUA, utilizou uma abordagem de bioinformática para identificar material genético do novo vírus, o Moku, tanto nas vespas quanto nas abelhas havaianas. De acordo com os cientistas, o recém-descoberto micro-organismo tem 46% de semelhança genética com o SBPV, um vírus altamente agressivo que ataca abelhas, mas só encontrado na Inglaterra, nas Ilhas Fiji e em Samoa.
Na avaliação conduzida por Purnima Pachori, principal autora do trabalho e pesquisadora do Centro de Análises Genéticas de Instituto Earlham, o RNA viral foi detectado na vespa e nas abelhas do Havaí. O banco de dados genéticos do instituto não conseguiu localizar esse material, um indicativo de que se tratava de um novo micro-organismo, jamais descrito pela literatura científica. ;É brilhante que a bioinformática possa contribuir para a caracterização de um novo vírus que pode significar uma ameaça à saúde dos polinizadores em todo o mundo;, diz Pachori.
;O uso da nova geração das técnicas de sequenciamento levou a um rápido aumento na descoberta de vírus, e essa é uma ferramenta poderosa para a investigação da enorme diversidade desses organismos na natureza;, observa Gideon Mordecai, coautor do trabalho. ;A verdadeira significância dessa descoberta reside nas ramificações potenciais que uma nova invasão biológica pode causar. É possível que estejamos vendo a história se repetir? Na invasão espanhola dos impérios Inca e Asteca nos séculos 16 e 17, os vírus de catapora e sarampo infligiram os piores danos aos indivíduos dessas nações populosas. O que estamos vendo é algo similar: uma vespa invasora levando um novo vírus às abelhas;, conclui.
Variedade do mal
Um estudo da Universidade de Maryland mostrou que o número de diferentes pesticidas aos quais uma única colônia de abelhas é exposta está relacionado diretamente à morte da população que a integra, independentemente da dosagem . O resultado do trabalho, que avaliou 91 colônias, também sugere que alguns fungicidas, geralmente considerados seguros, estão associado à mortalidade.
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