Uma das maiores apostas da medicina regenerativa é a impressão 3D. A técnica, além de dispensar um doador de órgãos, evita rejeição e pode ajudar a reconstituir tecidos mais difíceis de serem substituídos, como o ósseo. Na edição desta semana da revista Science Translational Medicine, uma equipe de pesquisadores norte-americanos apresentou uma novidade que, de acordo com eles, pode revolucionar uma série de tratamentos, desde o implante dentário à cirurgia na espinha dorsal. Os cientistas desenvolveram um material sintético que, usado como a ;tinta; da impressora, resulta em um tecido que vai estimular o novo crescimento ósseo. Até agora, os testes em ratos e macacos foram bem-sucedidos. Nos próximos cinco anos, devem ter início os estudos com seres humanos.
Segundo os pesquisadores responsáveis pela técnica, diferentemente de outros enxertos ósseos, o novo biomaterial é elástico e resistente, regenera os ossos sem necessidade de acrescentar fatores de crescimento (substâncias que estimulam a proliferação celular) e podem ser aplicados facilmente na sala de cirurgia. Em uma coletiva de imprensa transmitida pela internet, eles destacaram que a descoberta abre caminho para implantes personalizados e de baixo custo para tratamentos odontológicos, plásticos e reconstrutivos. ;Os enxertos ósseos que vêm sendo desenvolvidos são geralmente muito quebradiços para serem moldados e manipulados pelos cirurgiões, apresentam risco de rejeição uma vez dentro do corpo ou podem ser muito caros ou difíceis de manufaturar;, justifica Adam Jukus, do Departamento de Ciências Materiais e Engenharia da Universidade de Northwestern, principal autor do artigo.
Para superar essas dificuldades, os pesquisadores criaram um osso sintético hiperelástico feito basicamente de cerâmica ; material que contém minerais encontrados em dentes e ossos verdadeiros ; e polímero. O biomaterial, batizado de HB, foi impresso em diversos formatos. Além disso, os cientistas disseram que não tiveram dificuldades para cortá-lo, dobrá-lo ou suturá-lo. Implantado em animais de laboratório, ele se integrou rapidamente aos tecidos próximos, estimulando a regeneração de áreas lesionadas. No caso dos ratos, os testes foram feitos na medula espinhal. Em macacos rhesus, o HB sarou um defeito no osso da caveira após quatro semanas, sem provocar infecções ou outros efeitos colaterais.
;Esse trabalho representa o que pode ser o novo grande avanço na cirurgia ortopédica, craniofacial e pediátrica, no sentido de reparar e regenerar ossos;, disse, na coletiva, Ramille Shah, bioengenheira de tecidos da Universidade de Northwestern e participante do estudo. De acordo com ela, apesar de 98% da composição do HB ser a cerâmica, que geralmente é muito dura, ela tem propriedades micro e nanoestruturais que garantem uma grande elasticidade e maleabilidade. ;Na primeira vez que realmente imprimimos esse material em 3D, ficamos muito surpresos ao descobrir que, quando ele é apertado ou deformado, volta rapidamente ao formato original. Por causa dessas propriedades, demos o nome de osso hiperelástico, ou HB;, explicou.
Sem suturas
Normalmente, disse Shah, os produtos ortopédicos existentes ou em desenvolvimento são compostos de hidroxiapatita ou outras cerâmicas muito duras, o que impede os cirurgiões de manipular facilmente o tamanho ou o formato. Para demonstrar isso, a pesquisadora martelou um pedaço de um enxerto tradicional, que rapidamente esfarelou. Em contraste, o impacto da ferramenta no HB não provocou qualquer alteração.
;O osso hiperelástico pode ser facilmente dobrado para se encaixar onde for preciso, além do que ele se expande para mecanicamente se ajustar no espaço, sem necessidade de colas e suturas. Outra propriedade única que o coloca acima de qualquer competição é que ele é altamente poroso e absorvente. E isso é importante para a integração celular e com os tecidos quando implantado no corpo;, destacou Shah.
A porosidade do material é essencial para que, uma vez no organismo, ele permita que os vasos sanguíneos forneçam a oxigenação e as substâncias necessárias para o crescimento celular. Na prática, todas essas características permitiriam que, na sala de cirurgia, o médico cortasse e modelasse o enxerto personalizado, de acordo com a necessidade do paciente. ;Isso é muito importante, especialmente quando se trata de criar implantes maxilofaciais, onde o componente estético é importante para o sucesso da técnica;, disse a bioengenheira.
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