Um novo estudo realizado por um grupo de cientistas e empreendedores aponta os riscos catastróficos de um processo já em curso que pode transformar até 60% da Amazônia em savanas e, ao mesmo tempo, propõe um plano para mudar os paradigmas de desenvolvimento sustentável, transformando o bioma em um polo de inovação tecnológica em grande escala.
De acordo com os autores do estudo, publicado na revista científica PNAS, o novo paradigma consistiria em empregar as avançadas tecnologias digitais e biológicas da chamada Quarta Revolução Industrial - como inteligência artificial, robótica, internet das coisas, genômica, edição genética, nanotecnologias, impressão 3D -, associando-as ao conhecimento tradicional da região, a fim de criar produtos e serviços inovadores de alto valor agregado.
O estudo foi liderado por Carlos Afonso Nobre, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de [SAIBAMAIS]Desastres Naturais (Cemaden) e pelo empreendedor peruano Juan Carlos Castilla-Rubio, engenheiro bioquímico da Universidade de Cambridge (Reino Unido) e presidente da Space Time Ventures, empresa especializada em inovações da Quarta Revolução Industrial. Participaram também Gilvan Sampaio, Laura Borma e Manoel Cardoso, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Segundo eles, o processo de integração da Amazônia, nos últimos 50 anos, teve como base o uso intensivo de recursos naturais renováveis e não renováveis, provocando consideráveis alterações ambientais no bioma. Nesse período, a fronteira agrícola avançou sobre a floresta, mas a agricultura na região é insustentável e de baixa produtividade. "Estudos anteriores mostraram que essa situação levará a um alto risco de uma mudança irreversível na floresta: se a temperatura aumentar 4 ;C, ou se o desmatamento passar de 40% da área florestal, o bioma terá atingido o ;ponto de não retorno;, resultando em savanização de larga escala", disse Castilla-Rubio ao jornal O Estado de S. Paulo.
Para evitar esse destino trágico, os cientistas propõem que o desenvolvimento sustentável na Amazônia não fique limitado apenas à tentativa de conciliar o máximo de conservação da natureza, a intensificação da agricultura tradicional e a expansão da capacidade hidrelétrica. "Associando a Quarta Revolução Industrial a um constante intercâmbio com as culturas tradicionais, é viável desenvolver produtos baseados na biodiversidade com alto valor agregado, capazes de atingir mercados globais com um diferencial único", declarou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.