Liderado pelo oncologista gaúcho Stephen Stefani, o painel de especialistas se reuniu em Miami, nos Estados Unidos, em novembro passado, para listar os desafios da implementação da medicina de precisão no Brasil e propor soluções (veja arte). A reunião foi um convite da Fundação Saúde das Américas (FSA). Segundo os médicos, a crescente compreensão da patologia molecular de tumores combinada com uma onda de novas drogas e tecnologias de diagnóstico traduziu-se em melhorias substanciais na sobrevida para os pacientes com cânceres. Apesar disso, de 30% a 40% deles são medicados com drogas cujos benefícios são superados por altos custos de tratamento e efeitos colaterais evitáveis.
Na oncologia, a medicina de precisão busca combinar o histórico médico do paciente, o estado clínico dele e as características moleculares da doença. A descoberta de biomarcadores prognósticos, como agentes moleculares de cânceres comuns; e a identificação de subtipos moleculares em tumores sólidos permitiram o desenvolvimento de drogas e melhores decisões sobre a intervenção mais apropriada. Por exemplo, no tratamento do câncer colorretal, pessoas medicadas com a droga cetuximab e quimioterapia têm melhor resposta global que as tratadas apenas com a quimioterapia. No entanto, um subgrupo é exceção: os pacientes com uma mutação no gene KRAS não apresentam resposta ao cetuximab. A recomendação, agora, é que esses não sejam tratados com o medicamento.
Sem protocolo
O acesso dos brasileiros à medicina de precisão é frustrado porque poucos laboratórios têm recursos técnicos e humanos para fazer testes que constatem mutações genéticas e ajudem os médicos a direcionar o tratamento de forma precisa. Segundo o painel de brasileiros, outro problema é que a interpretação de testes genéticos de diagnóstico depende do trabalho conjunto de uma equipe variada de especialidades médicas.
[SAIBAMAIS]Porém, devido ao baixo suporte financeiro e à falta de recursos humanos, sobretudo no Sistema Único de Saúde (SUS), essa exigência não pode ser cumprida. Patologista do Departamento de Anatomia Patológica do A.C.Camargo Câncer Center, em São Paulo, Maria Dirlei Begnami explica que os exames de alta precisão estão presentes no Brasil (veja arte). Contudo, pouquíssimas pessoas têm acesso a eles. ;Um grande problema é que não temos um protocolo ou um sistema de controle que padronize esses testes. Isso é importante para assegurar a qualidade da avaliação e é um passo essencial para a implementação ampla da medicina de precisão;, diz a coautora do estudo.
Pode até parecer que o país está muito atrás no que diz respeito à adoção da medicina de precisão, mas, na América Latina, é um dos que contam com condição mais favorável. ;Se aqui a situação é ruim, em outros países vizinhos, é bem pior, pois eles têm menos recursos tecnológicos e centros de referência. O México e a Argentina, por exemplo, até chegam perto do Brasil, que poderia ser uma referência se tivesse uma legislação que nos permitisse trabalhar. Muitas vezes, é difícil fazer o teste e liberar o exame porque eles não são regularizados em termos jurídicos;, diz Begnami.
O país também não possui infraestrutura necessária para criar e manter as informações desses testes genéticos com, por exemplo, bancos de dados e sistemas bem elaborados que sirvam como repositórios de informações genéticas.
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