Ciência e Saúde

Revelar probabilidade de doenças não promove mudanças em estilo de vida

Após revisão científica, pesquisadores do Reino Unido concluíram que exames que indicam maior probabilidade de surgimento de uma doença não levam as pessoas a adotarem hábitos de vida mais saudáveis

Isabela de Oliveira
postado em 16/03/2016 07:25
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Informar indivíduos do risco genético aumentado para o surgimento de câncer de pulmão os motiva a parar de fumar? E revelar a pessoas de meia-idade que um exame mostra chances maiores para o diabetes as incentiva a praticar atividades físicas? Segundo pesquisadores da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, a resposta a essas questões particularmente interessantes para a medicina personalizada é não. Em estudo publicado na edição de hoje do British Medical Journal, eles mostram que a indicação, por meio de testes genéticos, sobre maior suscetibilidade a doenças não é suficiente para promover mudanças no estilo de vida.

[SAIBAMAIS]Existem, basicamente, dois tipos de exames genéticos. Um está bem estabelecido e é usado rotineiramente por médicos, inclusive brasileiros, que buscam mutações específicas. Foi um teste dessa natureza que informou a Angelina Jolie sobre a mutação hereditária no gene BRCA1, que aumenta em 87% o risco para câncer de mama e em 50% para tumores no ovário. A partir dos resultados e da avaliação médica, além do histórico familiar de mãe, tia e avó maternas vítimas de carcinomas, a atriz optou por remover mamas, ovários e tubas uterinas como prevenção.

O tipo de exame estudado pelos cientistas da Unidade de Pesquisa em Saúde e Comportamento da universidade britânica tem um caráter mais ;curioso;. Disponíveis no mercado desde o início dos anos 2000, ele analisa variantes genéticas relacionadas ao risco aumentado para as chamadas doenças complexas comuns: aquelas em que não há um único gene causador da doença ; por exemplo, cardiopatias e a maioria dos cânceres ;, mas a interação de dezenas, possivelmente centenas, deles. Em conjunto com o ambiente e o comportamento de um indivíduo, favorecem a enfermidade.



Mais barato e popularizado pelas técnicas de sequenciamento do genoma (leitura completa do DNA), esse teste é vendido no Canadá e Reino Unido, entre outros países europeus, como Dinamarca, Finlândia, Suécia e Irlanda. Em 2013, os Estados Unidos baniram do mercado kits do tipo devido a preocupações com relação à precisão e à utilidade da técnica. O exame não é amplamente disponível no Brasil, ainda que oferecido por clínicas particulares. Independentemente do país, a finalidade do procedimento gera controvérsia. Afinal, ter uma variante genética que predispõe a uma doença não significa que a pessoa desenvolverá com certeza o problema.

No entanto, os defensores argumentam que, se um indivíduo conhece os riscos aumentados para uma enfermidade, pode mudar o estilo de vida a fim de reduzir a probabilidade de adoecer. Para saber se essa mudança de hábito de fato acontece, os pesquisadores de Cambridge examinaram mais 10.515 estudos até chegar a 18 sobre os efeitos dos testes genéticos que apontavam maior suscetibilidade de câncer de pulmão, colorretal e esôfago, melanoma, doença de Alzheimer e Chron, doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, hipertensão, obesidade e hipercolesterolemia familiar.

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