Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Brasileira revela três grandes fluxos de escravos que deixaram o Brasil

Pesquisadora da Unicamp revela detalhes de três grandes fluxos de negros libertos que deixaram o Brasil e voltaram ao continente de origem na primeira metade do século 19. Muitos deles foram expulsos, acusados de tramar uma revolta

José Pedro Autran nasceu em um reinado ao nordeste da cidade Ile-Ife, na Nigéria. Contudo, o nagô, como era chamado na Bahia todo falante do idioma iorubá, não era mais considerado gente quando desceu de um navio negreiro atracado na costa brasileira. Naquele início de século 19, era uma mercadoria pertencente a Pedro Autran da Matta e Albuquerque.

[SAIBAMAIS]Assim continuou até 1822. Contou com a ajuda do próprio senhor e de outros negros para se tornar liberto, um status que lhe custou 300 mil réis. Casou-se com Francisca da Silva, fundadora da Casa Branca, primeiro templo de candomblé de Salvador, e adquiriu os próprios escravos. Mas a condição mais favorável não o poupou da perseguição. Em 1837, ele se uniu a outros africanos libertos para cruzar mais uma vez o Atlântico. Não é errado dizer que se exilou na República do Benim, onde fundou uma unidade familiar chamada Villaça ou Kalofé e passou o resto da vida, sem nunca perder o contato com seus pares no Brasil.

Leia mais em Ciência e Saúde

A história de José Pedro é uma entre muitas que a antropóloga Lisa Earl Castillo, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), conseguiu recuperar e detalha em artigo publicado na revista Atlantic Studies-Global Currents. Para mapear três grandes fluxos de libertos do Brasil para a África ; o maior deles iniciado em 1835, seguido de dois menores em 1840 e 1850 ;, a pesquisadora visitou a Nigéria e o Benin.

Nessa última nação, colheu dados sobre outro africano com destino semelhante ao de José Pedro: Antonio Pereira dos Santos. Ouviu dos descendentes que ele era um muçulmano originário da cidade de Oyo. ;Porém, as tradições orais não lembravam muito da sua vida no Brasil, nem do motivo pelo qual voltou para a África ou da esposa que teve aqui, Anna de Christo. O diálogo com a família foi importante porque obtive informações ausentes nos documentos. Também foi proveitoso para a família no Benin, porque esclareceu uma parte da trajetória do ancestral, que era uma lacuna nas tradições orais;, conta Castillo.

Levante

A onda migratória da Bahia para a África entre 1835 e 1837 foi uma das consequências da perseguição aos africanos iniciada após a Revolta dos Malês. Incitado por líderes islâmicos (;màles), o grande levante negro acirrou ainda mais os preconceitos contra os libertos e estimulou a criação de medidas repressivas adotadas pelo governo provincial baiano.

A matéria completa está disponível aqui, para assinantes. Para assinar, clique aqui.