Paris acordou nublada naquela manhã de 26 de fevereiro de 1896. E assim seria pelos próximos dias. O céu nublado decepcionou o físico francês Antoine Henri Becquerel. Ele tinha planos de testar uma ideia que poderia avançar na compreensão de um fenômeno observado no ano anterior. Para tanto, precisava de um Sol radiante. O que poderia ser um experimento frustrado, porém, acabou se transformando na descoberta da radioatividade.
Como todo cientista da época, Becquerel havia acompanhado os relatos do alemão Wilhelm Conrad Roentgen, que, em 1895, descreveu os raios X. O francês testava, então, um fenômeno que, erroneamente, associava à fosforescência, propriedade natural dos minerais. No fim de fevereiro, colocou sais de urânio em uma chapa fotográfica com o objetivo de fazer com que o Sol ativasse a luz do material. Mas, com as nuvens bloqueando a luminosidade, acabou guardando a chapa em uma gaveta.
Por motivos que ficaram sem explicação, em vez de jogar o experimento fora, o físico resolveu revelar as placas dias depois. O que viu o intrigou e, em 1; de março, repetiu o teste, colocando a chapa novamente no escuro. ;Agora, estou convencido de que os sais de urânio produzem radiação invisível, mesmo quando mantidos no escuro. Eles não precisam ser expostos à luz para gerar esse efeito;, anotou em seu diário científico.
Ao contrário do que se costuma alardear, a descoberta da radioatividade não aconteceu por acaso. ;No fim dos anos 1890, tudo era novo. Os cientistas trabalhavam para descobrir como funcionavam as chapas e os filmes fotográficos, a radiação, os elétrons, as partículas... Havia muita pesquisa em curso;, argumenta Pamela Gay, professora da Universidade de Illinois em Edwardsville e diretora do site CosmoQuest. ;Becquerel viu a apresentação de Roentgen sobre raios X, e isso o levou a pensar sobre os efeitos do sal de urânio nisso. Ele pensou que, talvez, esses efeitos tivessem relação com o processo de fosforescência;, esclarece. ;Mas é claro que, ao revelar as chapas que ficaram na gaveta, produziu um daqueles estranhos momentos que, às vezes, acontecem na ciência.;
Continuidade
Não houve, porém, um momento ;eureca;, de total revelação, como muitos gostam de acreditar. O fenômeno não estava explicado, e Becquerel sugeriu a uma aluna de doutorado, Marie Curie, aprofundar o estudo sobre essa fonte de energia, que ela daria o nome de radioatividade. Dali em diante, estava aberto um campo de incontáveis aplicações, que, se, por um lado, culminaram em instrumentos bélicos, por outro renderam numerosas aplicações benéficas, como a radiologia e a medicina nuclear.
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