Como todo cientista da época, Becquerel havia acompanhado os relatos do alemão Wilhelm Conrad Roentgen, que, em 1895, descreveu os raios X. O francês testava, então, um fenômeno que, erroneamente, associava à fosforescência, propriedade natural dos minerais. No fim de fevereiro, colocou sais de urânio em uma chapa fotográfica com o objetivo de fazer com que o Sol ativasse a luz do material. Mas, com as nuvens bloqueando a luminosidade, acabou guardando a chapa em uma gaveta.
Por motivos que ficaram sem explicação, em vez de jogar o experimento fora, o físico resolveu revelar as placas dias depois. O que viu o intrigou e, em 1; de março, repetiu o teste, colocando a chapa novamente no escuro. ;Agora, estou convencido de que os sais de urânio produzem radiação invisível, mesmo quando mantidos no escuro. Eles não precisam ser expostos à luz para gerar esse efeito;, anotou em seu diário científico.
Ao contrário do que se costuma alardear, a descoberta da radioatividade não aconteceu por acaso. ;No fim dos anos 1890, tudo era novo. Os cientistas trabalhavam para descobrir como funcionavam as chapas e os filmes fotográficos, a radiação, os elétrons, as partículas... Havia muita pesquisa em curso;, argumenta Pamela Gay, professora da Universidade de Illinois em Edwardsville e diretora do site CosmoQuest. ;Becquerel viu a apresentação de Roentgen sobre raios X, e isso o levou a pensar sobre os efeitos do sal de urânio nisso. Ele pensou que, talvez, esses efeitos tivessem relação com o processo de fosforescência;, esclarece. ;Mas é claro que, ao revelar as chapas que ficaram na gaveta, produziu um daqueles estranhos momentos que, às vezes, acontecem na ciência.;
Continuidade
Não houve, porém, um momento ;eureca;, de total revelação, como muitos gostam de acreditar. O fenômeno não estava explicado, e Becquerel sugeriu a uma aluna de doutorado, Marie Curie, aprofundar o estudo sobre essa fonte de energia, que ela daria o nome de radioatividade. Dali em diante, estava aberto um campo de incontáveis aplicações, que, se, por um lado, culminaram em instrumentos bélicos, por outro renderam numerosas aplicações benéficas, como a radiologia e a medicina nuclear.
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