Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Cientistas propõem que cânceres sejam tratados com doses regules de quimio

O método é alterado conforme a resposta tumoral e, segundo eles, reduz sequelas e o surgimento de células malignas super-resistentes

Desde meados da década de 1950, as terapias oncológicas convencionais buscam erradicar as células doentes com doses elevadas de radiação, quimioterapia e cirurgias. As intervenções nem sempre têm sucesso: não são raros os casos em que, pouco tempo após a conclusão da terapia médica, o paciente apresenta recidiva do tumor e sequelas decorrentes da superdosagem. Na última edição da revista Science Translational Medicine, pesquisadores do H. Lee Moffitt Cancer Center and Research Institute, nos Estados Unidos, defendem uma estratégia diferente. Segundo eles, doses baixas e contínuas de quimioterápicos podem até não eliminar totalmente o tumor, mas diminuem o risco de sequelas e não favorecem células resistentes ao tratamento, impedindo, assim, que o câncer volte a crescer.

Robert Gatenby, autor sênior do estudo, explica que as terapias de extermínio de células tumorais aceleram a emergência de clones resistentes, que proliferam sem concorrência. O fenômeno é chamado liberação competitiva. ;Nós apresentamos uma estratégia de tratamento guiada por esse conhecimento da evolução. Ela é projetada para manter uma população estável de células quimiossensíveis, limitando a proliferação das resistentes;, detalha. A abordagem foi testada em ratos programados para desenvolver câncer de mama. Os animais receberam paclitaxel, um quimioterápico que contém o crescimento tumoral, encorajando-o a atingir um platô.

[SAIBAMAIS]Os cientistas concluíram que a terapia adaptativa proposta por eles ; que consistiu em doses baixas e constantes de paclitaxel ; ofereceu resultados superiores aos da terapia com doses altas ininterruptas e também aos da abordagem de alternância de doses. Os animais foram acompanhados durante tempo suficiente para que fossem observadas as curvas de crescimento dos tumores tratados em cada uma das três abordagens. A terapia adaptativa proporcionou o melhor desfecho: em 60% a 80% dos animais tratados com ela, pôde-se suspender o tratamento por completo sem progressão do câncer de mama.

Análise por imagem
Para dosar o paclitaxel conforme as respostas tumorais, obtidas por exames de ressonância magnética, os autores utilizaram algoritmos. Nas cobaias, o controle inicial exigiu que a terapia fosse mais intensa, com aplicações regulares e em dosagens maiores, para que a curva de crescimento tumoral se estabilizasse. No entanto, uma vez alcançado o platô, os ratos tratados com a terapia adaptativa passaram semanas sem necessitar de medicamentos para conter a evolução do câncer.

;Imagens de ressonância magnética e análise histológica dos tumores controlados pela terapia adaptativa demonstraram aumento da densidade vascular e menos necrose, sugerindo que a normalização vascular resultante da estabilização pode contribuir com o controle do tumor por doses menores e contínuas da droga. Nosso estudo demonstra que uma terapêutica baseada na estratégia de evolução, em um medicamento quimioterapêutico disponível e na imagiologia clínica convencional pode prolongar a progressão e a sobrevivência a diferentes modelos pré-clínicos de câncer de mama;, concluiu o Gatenby.

Na avaliação de Giannoula Klement, pesquisadora oncológica na Faculdade de Medicina da Universidade Tufts, nos Estados Unidos, a proposta tem potencial de evitar que novas adaptações evolutivas causadas por mutações genéticas ou resistência multicelular, entre outros fatores, influenciem na gravidade do tumor e na agressividade do tratamento. Klement acredita que a abordagem de Gatenby aponta para o futuro. ;É bastante provável que, não muito distante, os oncologistas mantenham seus pacientes em casa prescrevendo doses baixas de quimioterapia, controle imunológico e inibidores de angiogênese personalizados;, imagina a pesquisadora, que não participou do estudo.

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