Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Forma de malária resistente a tratamento pode chegar à África, diz estudo

O tratamento padrão atualmente é a artemisinina - desenvolvida pelo cientista chinesa Tu Youyou, que acaba de receber o Prêmio Nobel de medicina - em combinação com outros tratamentos anti-malária

Formas de malária resistentes aos tratamentos convencionais, já em franca expansão pelo sudeste da Ásia, também podem espalhar-se pelo continente africano e prejudicar as chances de erradicar a doença - é o que aponta um estudo publicado nesta terça-feira (20/10) na revista Nature Communications.

A malária é uma doença causada por um parasita (Plasmodium falciparum) que é transmitido por mosquitos. Ela afeta cerca de 200 milhões de pessoas em todo o mundo, principalmente nos trópicos, e causa cerca de 600 mil mortes a cada ano, a maioria na África subsaariana, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).

O tratamento padrão atualmente é a artemisinina - desenvolvida pelo cientista chinesa Tu Youyou, que acaba de receber o Prêmio Nobel de medicina - em combinação com outros tratamentos anti-malária. Mas há alguns anos foram observadas resistências face a este tratamento, principalmente no Camboja e em outros países do Sudeste Asiático.

Para determinar se a África também pode ser ameaçada pela ocorrência deste tipo de resistência, um grupo de investigadores infectou diferentes espécies de mosquitos com parasitas resistentes à artemisinina provenientes de pacientes cambojanos ou de testes laboratoriais.



Estes parasitas infectaram facilmente diversas espécies de mosquitos Anopheles, entre eles o Anopheles coluzzii - principal vetor da malária na África.

Os pesquisadores, liderados por Rick Fairhust, do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID) - que depende do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH) - também descobriram um fundo genético comum em parasitas resistentes à artemisinina que lhes permite infectar várias espécies de mosquitos ignorando seus sistemas imunitários.

Para os pesquisadores, essa capacidade pode explicar o rápido desenvolvimento da malária resistente à artemisinina no Sudeste Asiático. Os mosquitos que transmitem o parasita resistente têm, além disso, a tendência de picar do lado de fora das residências, limitando o tamanho de estratégias de controle do vetor com base em redes ou inseticidas, observam os pesquisadores.

Em comunicado resumindo o estudo, a revista Nature Communications assinala que o estudo "não demonstra que os mosquitos infectados podem efetivamente transmitir a doença para os seres humanos", mas há uma "possibilidade de que os parasitas resistentes à artemisinina se propaguem para além do Camboja até a África, o que vai representar um desafio significativo para a erradicação da malária".