Belo Horizonte ; Que a música é capaz de mudar os sentimentos de uma pessoa, todos sabem, mas muitos devem se surpreender com o resultado de um estudo recente que investigou os efeitos do heavy metal sobre o humor. Apesar de ser comumente associado a um clima sombrio, o estilo musical foi apontado como um importante aliado no combate à depressão na pesquisa, conduzida pelas psicólogas Genevieve Dingle e Leah Sharman, da Universidade de Queensland, na Austrália. E mais: o som pesado ainda foi caracterizado como inspirador de pensamentos positivos e redutor da sensação de tristeza. Essas conclusões foram publicadas na revista especializada Frontiers in Human Neuroscience.
O experimento contou com 39 pessoas, com idades entre 18 e 34 anos, que relataram, durante 16 minutos, situações que as deixavam irritadas. Logo na sequência, os participantes tinham a opção de escutar uma música ; que podiam escolher de uma lista previamente elaborada ; ou ficar em silêncio. O heavy metal foi a escolha de boa parte dos participantes, que relatou ter ficado mais calma e até inspirada, contrariando a ideia de que, por ser uma música mais ;intensa;, poderia provocar a sensação de irritabilidade ou agressividade.
;Descobrimos que a música regulou a tristeza e aumentou as emoções positivas. As canções os ajudaram a explorar a gama de emoções que sentiam, e também os deixaram mais ativos e inspirados;, afirmou Sharman ao jornal The Independent. E completou: ;Os resultados mostram que os níveis de hostilidade, irritabilidade e estresse diminuíram quando a música foi introduzida;.
No entanto, esse resultado positivo alcançado no tratamento de pacientes com depressão não é exclusividade do heavy metal. Segundo a coordenadora do curso de musicoterapia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Cybelle Loureiro, o mais importante para o sucesso é que a escolha e as preferências do paciente sejam respeitadas. ;A bagagem musical do paciente é que determina o que vai ser usado. É o paciente que escolhe o som a ser tocado, quais as composições que mexem com ele, tudo isso é considerado;, diz. Durante as sessões, segundo ela, são apresentados ao paciente outros estilos musicais, sempre a partir do que ele aprova. ;Ele vai trazer o que ele gosta, as preferências, aí vou analisar se o estado é agitado, se é negativo;, comenta.
A terapia e o tratamento feitos com música são usados para que o indivíduo perceba não só sua condição psicológica, mas também física. ;Os acordes são usados para que a pessoa perceba também seu ritmo. A depressão acaba influenciando a forma de andar e até sua consciência corporal. Cada um tem seu ritmo e, com a musicoterapia, a gente ajuda o paciente a retomar essa consciência temporal do corpo, a ritmicidade;, conta.
Complementar
Loureiro conta que uma das formas de trabalho com a terapia é usar a música em grupo. Os efeitos e as patologias que podem ser tratadas vão além da depressão. Casos de bipolaridade, esquizofrenia e estresse pós-trauma são alguns dos casos que podem ter a terapia a seu favor. Ela alerta, porém, que o tratamento com medicamentos não é descartado e que as duas formas caminham juntas. O encaminhamento para a musicoterapia é feito pelo responsável que está acompanhando o paciente. ;É uma forma de complementar o tratamento que é feito com o médico;, ressaltou.
O uso da musicoterapia no tratamento da depressão e outras patologias ocorre há algum tempo e apresenta bons resultados. Os efeitos da música na vida dos indivíduos também é alvo da atenção de cientistas há vários anos. As melodias podem acalmar, animar e facilitar o aprendizado e a concentração, além de desenvolver os sentidos e promover interações.
Estudos comprovaram a capacidade que uma boa composição tem de provocar uma condição biológica, imunológica e cerebral mais equilibrada. A música pode controlar reações emocionais, facilitar o entendimento de informações cognitivas e induzir a produção de dopamina e serotonina, substâncias relacionadas ao prazer e ao bem-estar. As notas musicais seriam capazes de aumentar, ainda, a plasticidade cerebral.