Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Para reinventar a roda: Série do Correio mostra alternativas aos carros

O setor de transportes, especialmente o rodoviário, é fonte de poluição e estresse urbano. Série de reportagens mostra as formas de amenizar esse efeito indesejado dos carros

No lombo dos cavalos, no deslizar das rodas ou nas asas dos aviões, as distâncias se tornam infinitamente menores. Não há dúvidas: o mundo girou graças aos meios de transporte. No entanto, em breve, eles podem fazer o planeta parar. A poluição que sai dos motores ameaça a vida na Terra, e o entupimento das ruas torna a existência nas cidades cada dia menos viável. Para continuar usufruindo dos benefícios da mobilidade rápida, o homem precisará estabelecer uma nova relação com uma das suas maiores paixões: os veículos.

Em uma série de reportagens que se inicia hoje e vai até terça-feira, o Correio mostrará quais são os principais pontos desse debate, que envolve interesses do crescimento econômico, satisfação de passageiros e consumidores e saúde ambiental. Especialistas garantem que, embora os desafios sejam muitos, é possível vencê-los.

O tema interessa muito ao Brasil, que caminha para ter uma frota comparável à dos Estados Unidos em três décadas. Isso significa mais CO2 saindo dos escapamentos, uma tendência que se observa há anos. Dados do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima, mostram que as emissões de gás carbônico pelo setor de transportes brasileiro passaram de 84 milhões de toneladas em 1990 para 204 milhões em 2012. ;Com relação às emissões em áreas urbanas, o Brasil representa 23% do total (emitido) na América Latina;, afirma Erick Kill, pesquisador da Universidade de Brasília (UnB) e da Universidade de São Paulo (USP).

O país não está sozinho. No mundo todo, a emissão de gases do efeito estufa pelos diferentes meios de transporte cresceram vertiginosamente nas últimas décadas. Como as reportagens dos próximos dias mostrarão, a indústria consegue reduzir esse impacto melhorando a eficiência dos motores, e a busca por biocombustíveis é outra importante aposta. Mas uma terceira ação é crucial, avaliam especialistas: repensar a mobilidade urbana.

Individual X coletivo

As cidades brasileiras cresceram ao longo do século 20 de forma impressionante, mas também de maneira desordenada. A maior metrópole do país, São Paulo, que teve o Centro consolidado nos anos 1920, hoje vive uma situação insólita: a diferença entre a temperatura média das áreas periféricas e a da região central, onde circulam mais veículos, chega a 5;C. Isso significa que as previsões de aquecimento global de 2;C ou 3;C já acontecem em escala local. ;As cidades se converteram em minilaboratórios naturais do que vai acontecer com a gente no futuro;, aponta o médico Paulo Hilário Nascimento Saldiva, do Departamento de Patologia da USP e do Departamento de Saúde Ambiental da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.

A desordem é alimentada por um fenômeno chamado de conurbação, a união de metrópoles. São Paulo, funcionalmente, é a combinação da Grande São Paulo, de Campinas, de São José dos Campos, de Santos e de Sorocaba. Com isso, torna-se comum que uma pessoa precise percorrer 100km de estradas entre sua casa e o serviço. Se os transportes coletivos são escassos em qualidade e quantidade, a população busca driblar o problema com o transporte individual.