Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Hipertensos e homens são os mais beneficiados pelo exercício aeróbico

Segundo estudo norte-americano, os impactos das atividades físicas variam conforme o perfil do praticante


Um tempo em que os fracos não tinham vez: na pré-história, o condicionamento físico era arma fundamental para a sobrevivência. Milênios depois, a questão permanece de vida ou morte. Não mais para assegurar a subsistência, mas livrar o organismo de enfermidades, como as cardiovasculares, tão sorrateiras quanto um predador à espreita. A associação é reconhecida desde as civilizações mais antigas, mas somente em 1958 o médico Jeremiah Noah Morris estabeleceu cientificamente a importância da atividade física na prevenção de doenças. Com isso, mudou a forma como a humanidade se relaciona com o corpo. Um estudo recente da Universidade Brown, nos Estados Unidos, tem chances de provocar outra renovação. Os cientistas descobriram que os benefícios das atividades físicas não são universalmente iguais.

;Apesar de promover ganhos para a maioria das pessoas em grande parte das circunstâncias, não significa que o mesmo programa de exercício ou de terapia deva ser prescrito a todos igualmente;, diz Simin Liu, epidemiologista que coordenou a investigação, detalhada recentemente no Journal of the American Heart Association. Liu reuniu evidências em 160 estudos clínicos, totalizando mais de 7,5 mil participantes. O médico é um dos primeiros pesquisadores a examinar os efeitos dos exercícios aeróbicos em pessoas com diferentes condições de saúde. Uma das conclusões a que chegou é que homens, indivíduos com até 50 anos e até hipertensos estão entre os mais beneficiados pelos exercícios cardiovasculares.

A equipe também descobriu que essas atividades têm capacidade de reduzir a resistência à insulina e a inflamação significativamente, e que os exercícios regulares de fato afetam as taxas do colesterol total, diminuindo o LDL, o mau colesterol, e aumentando o HDL, o bom. O estudo traz resultados especialmente positivos para diabéticos tipo 2 e hipertensos: fatores de risco cardeais para infartos e acidente vascular cerebral são atenuados com a prática física. A relação faz sentido, diz Lázaro Miranda Fernandes, coordenador do Departamento de Cardiologia do Hospital Santa Lúcia. ;Quando se atua em um paciente sem fatores de risco, não há malefícios a serem combatidos. Porém, quanto maior o risco cardiovascular do indivíduo, maior será a repercussão do tratamento neste sentido;, explica o também membro da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).

A lógica vale também para interpretar as vantagens observadas em indivíduos com menos de 50 anos. ;Nos mais velhos, certas lesões coronarianas e doenças crônicas já estão avançadas;, explica Lázaro Fernandes. O cardiologista ressalta que os resultados não excluem benefícios aos outros grupos. Idosos vítimas de infarto, por exemplo, conseguem reabilitar o fluxo e a irrigação sanguínea nos tecidos lesionados com exercícios diários leves e repetidos. ;Isso não vai ampliar a longevidade significativamente, mas melhorará a qualidade de vida e evitará novos eventos;, observa. Além disso, esportes aumentam a fibrinólise, a dissolução de pequenos coágulos que se formam nas artérias, podendo obstruí-las. ;E isso é especialmente bom para os cardíacos;, acrescenta Lázaro Fernandes.

Mais adaptações

Roberto Patu, fisiologista mestre em ciências da saúde, conta que estudos como os de Simin Liu são reflexos de uma nova tendência da prática física: a individualização, que leva em consideração os gostos, as necessidades, as preferências e as possibilidades do praticante. ;É uma forma de tratar a atividade como prevenção de doenças e não somente como promoção de saúde;, explica o também consultor técnico da Brasil Esporte. Se Liu tivesse considerado também os exercícios resistidos ; que demandam força, como a musculação ; , a extensão dos benefícios poderia ser ainda maior, acredita Patu, especialmente entre pessoas na faixa dos 50 anos. É nesse período que a sarcopenia (perda de massa muscular) manifesta os primeiros sinais.

Ainda que a Escola Americana de Medicina Esportiva sugira um padrão universal para a prática de exercícios (veja infográfico), o método evoluiu para um sistema sob medida, que envolve diagnóstico, planejamento e ação. ;Isso nos permite traçar um trabalho que faça o praticante sentir prazer. Se ele não gosta de musculação, iremos pensar em uma estratégia que lhe permita fazer trabalhos resistidos também, como treinamentos funcionais e core training, que envolve isometria, estabilidade, equilíbrio e força;, esclarece o especialista. Em média, os resultados de modalidades diversas aparecem em três meses.

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