Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Cigarro aumenta risco de distúrbios psiquiátricos, diz estudo

Uma "associação" estatística entre o fumo e as psicoses, em especial a esquizofrenia, foi descoberta em estudos anteriores

Conhecido por causar câncer e doenças cardiovasculares, o cigarro também poderia aumentar o risco de transtornos psiquiátricos graves, como psicoses como a esquizofrenia - segundo um estudo publicado nesta sexta-feira na revista Lancet Psychiatry.

Uma "associação" estatística entre o fumo e as psicoses, em especial a esquizofrenia, foi descoberta em estudos anteriores, lembram os investigadores europeus que assinam o trabalho.

Foi observado que as pessoas com transtornos psiquiátricos graves eram significativamente mais propensas a fumar, com taxas de tabagismo entre os psicóticos três vezes maior do que na população geral.

Mas "as razões pelas quais as pessoas com psicose são mais propensos a fumar do que o resto da população permanecem obscuras", escreveram eles em seu artigo.

É a doença e/ou os tratamentos psiquiátricos usados para combatê-las que encorajam o tabagismo? Várias teorias nesse sentido têm sido propostas, em particular o fato de que o cigarro ajudaria a compensar os efeitos das drogas sobre a regulamentação da dopamina, um neurotransmissor associado ao mecanismo de recompensa.

Mas alguns pesquisadores se concentraram na ideia de que o próprio cigarro "poderia aumentar o risco da ocorrência destas doenças".

Este estudo procurou especificamente testar esta hipótese e determinar se a psicose é declarado mais cedo em fumantes do que entre os não-fumantes.

Deste trabalho de "meta-análise" epidemiológica (que consiste na análise de vários estudos realizados anteriormente, envolvendo um total de 14.555 fumantes e 273.162 não-fumantes), foi extraído um resultado bastante claro.

"O consumo diário está associado a um risco aumentado de psicose e ao início mais precoce dos transtornos psicóticos", escreveram os autores do artigo, Pedro Gurillo (hospital de Torrevieja, no leste da Espanha) e Sameer Jauhar (King;s College de Londres). No início da doença, os psicóticos são três vezes mais propensos a serem fumantes do que o resto da população.

"Embora seja sempre difícil determinar a causalidade, nossos resultados mostram que o tabagismo deve ser seriamente considerado como um possível fator de risco no desenvolvimento de psicoses e não é considerado como uma simples consequência da doença", explicou James MacCabe (King;s College), também autor do estudo.

Um "nexo de causalidade" ainda precisaria ser plenamente demonstrado, mas os pesquisadores apontam para uma possível explicação: a dopamina.

"É possível que a exposição a nicotina aumente a liberação de dopamina, o que resulta no desenvolvimento de psicoses", já que o excesso de dopamina no corpo é uma das hipóteses para explicar a esquizofrenia, afirmou Robin Murray, da King;s College.

Este estudo e outro trabalho sueco publicado recentemente sobre tabagismo e esquizofrenia, "argumentam fortemente em favor de uma relação causal entre tabagismo e esquizofrenia", avaliou o psiquiatra Michael Owen (Universidade de Cardiff).

Mas para Michael Bloomfield (University College London), "ainda há muito trabalho a ser feito antes que os cientistas possam declarar com certeza que fumar realmente aumenta o risco de esquizofrenia".