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Ciência e Saúde

Proteína na saliva do mosquito ajuda no combate à leishmaniose

Doença que atinge 1,3 milhão de pessoas a cada ano, matando cerca de 30 mil delas, a leishmaniose não tem vacina. Uma parceria entre pesquisadores do Brasil e dos Estados Unidos traz resultados que podem mudar esse cenário. Eles conseguiram diminuir as manifestações da enfermidade infecciosa em mais de 50% e ainda reduzir o tempo de recuperação com uma vacina criada a partir da proteína PdSP15, encontrada na saliva do mosquito transmissor da doença. Encabeçadas pelo pesquisador brasileiro Luiz Fabiano Oliveira, que trabalha nos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA, as descobertas foram detalhadas na edição de hoje da revista Science Translational Medicine.

Ao se falar em vacina, imagina-se que ela foi criada para atacar um vírus, explica o infectologista Werciley Junior, do Hospital Santa Lúcia, em Brasília. ;No caso de protozoários, há um problema: eles são maiores que os vírus e invadem as células de defesa, no caso os macrófagos, que deveriam capturar e destruir esses micro-organismo, ;comendo-os;;, detalha o médico não participante do estudo. No entanto, no caso de doenças como a leishmaniose, essas estruturas imunológicas acabam sendo atacadas antes pelos parasitas, que as invadem e as utilizam como casa para procriar até explodirem, espalhando a doença pelo corpo.

;As tentativas de vacina que existem miram esse ciclo do parasita, que é muito mais complexo do que o de um vírus. A imunidade imediata, portanto, não resolve o problema. Precisa-se de algo que forneça uma proteção que dure mais tempo;, explica Werciley Junior. Diante desse quebra-cabeça, a equipe de Luiz Fabiano resolveu mirar outra frente de combate: o próprio mosquito transmissor, não o parasita transportado por ele.

A leishmaniose é transmitida pela picada de fêmeas do mosquito-palha infectadas. Ao se alimentarem de sangue, elas danificam a pele do hospedeiro e provocam uma resposta imediata do organismo da pessoa ou do animal atacado. Os flebotomíneos, como também são chamado os mosquitos-palha, desenvolveram maneiras criativas para contornar essa reação imediata. Uma delas é a produção de componentes ativos, na própria saliva, capazes de neutralizar a resposta do hospedeiro. Mas justamente esse artifício podem ser usado contra o parasita, acreditam os autores do novo estudo.

Mesmo em concentrações baixas, essas moléculas contidas na saliva do inseto são potentes e influenciam profundamente a fisiologia do hospedeiro. Estudos anteriores indicaram que roedores imunizados com proteínas presentes na saliva dos insetos ou picados por mosquitos não infectados ficaram protegidos contra a leishmaniose cutânea e visceral. No trabalho de Luiz Fabiano ; que teve participação da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da Fundação Oswaldo Cruz ;, verificou-se a capacidade da proteína PdSP15 de proteger macacos rhesus picados por mosquitos infectados.

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