Ciência e Saúde

Pesquisa japonesa mostra que contato visual ajuda a criar vínculo com cães

Quando o animal e seu tutor se encaram, ambos produzem mais ocitocina, hormônio ligado ao estabelecimento de vínculos emocionais

Vilhena Soares
postado em 17/04/2015 06:18

;O olhar é a linguagem do coração.; Dessa forma, William Shakespeare mostrou que a expressão dos afetos se dá não por palavras ; ;cheias de falsidade ou de arte;, escreveu o bardo ;, mas pelos olhos. Cerca de quatro séculos mais tarde, a ciência dá razão ao inglês. O contato visual tem o poder de estabelecer fortes vínculos, e não apenas entre pessoas. Um estudo japonês, publicado na edição de hoje da revista Science, sugere que o amor sentido por humanos em relação a seus cachorros se deve, em grande parte, à troca de olhares. E mais: o sentimento parece ser recíproco.

Uma das participantes do estudo com seu cachorro: para os cientistas, produção maior de ocitocina a partir do olhar é fruto de um processo evolutivo iniciado há milhares de anos

A partir de experimentos feitos com cães e seus tutores, os cientistas mostraram que a troca de olhares aumenta ; nos bichos e nos humanos ; a produção do hormônio ocitocina, já apontado como fundamental para fortalecer os laços entre mães e filhos. Os autores do trabalho acreditam que essa reação orgânica é resultado de um processo evolutivo conjunto iniciado na época da domesticação, iniciada há cerca de 35 mil anos.

A suspeita de que a ocitocina poderia desencadear nos cachorros um efeito semelhante ao que ocorre no organismo dos humanos já existia, mas a nova pesquisa conseguiu aprofundar o tema e obter resultados mais sólidos. ;Nós já publicamos outros trabalhos em que o olhar do cão para o proprietário aumentou o nível de ocitocina, mas se tratava só de uma via, do cão para humano. Nesse estudo, exploramos a comunicação mútua entre o ser humano e os cães;, conta ao Correio Takefumi Kikusui, pesquisador da Universidade de Azabu, no Japão, e coautor do estudo.

Desta vez, os cientistas pediram para que cães e tutores ficassem por 30 minutos em um quarto, onde tinham todos os comportamentos (fala, emissão de sons, toques e trocas de olhares, por exemplo) monitorados e medidos. Depois, foram colhidas amostras de urina da dupla, enviadas para exame. Os resultados mostraram que, quanto maior o contato visual, mais altos eram os níveis de ocitocina detectados. ;Esse hormônio age sobre o cérebro, provavelmente no sistema límbico, para facilitar a comunicação de ligação em uma relação de ;parentesco;, estimulada pelo olhar. O interessante é que esse comportamento de conexão funciona para os seres humanos não apenas com outros de sua espécie;, afirma Tafekumi.

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