Ciência e Saúde

Cientistas descobrem motivo da rejeição a implantes no corpo humano

Estudo norte-americano indica que tanto o biomaterial escolhido quanto as condições químicas e biológicas do paciente interferem no sucesso da cirurgia. A descoberta pode tornar os procedimentos mais personalizados

Isabela de Oliveira
postado em 29/01/2015 06:01
Estudo norte-americano indica que tanto o biomaterial escolhido quanto as condições químicas e biológicas do paciente interferem no sucesso da cirurgia. A descoberta pode tornar os procedimentos mais personalizadosLesões e outras condições degenerativas costumam necessitar de reparação cirúrgica. Não são raros os casos em que esses procedimentos requerem que partes do esqueleto ou de órgãos vitais, como rins, coração e intestino, sejam adaptadas e até mesmo substituídas. A troca, entretanto, não pode ser por qualquer peça, mas pelas que imitam bem as funções naturais do corpo: os biomateriais. Embora costumem apresentar excelente desempenho em laboratório, eles podem falhar quando inseridos no organismo humano, levando a sucessivas operações para encontrar o material mais adequado. Pesquisadores do Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, descobriram um possível motivo para as rejeições. Segundo eles, não é apenas a constituição do material que influencia a resposta do corpo, mas também as próprias condições químicas e biológicas do doente.

Até então, os pesquisadores tentavam solucionar o problema olhando apenas para a biocompatibilidade desses materiais, isto é, a dinâmica deles no corpo. A equipe liderada por Nuria Oliva tomou um caminho diferente, quase intuitivo. Eles observaram, em experimentos com ratos, se as mudanças químicas e biológicas provocadas por uma doença podem alterar o desempenho do implante. De acordo com um estudo publicado na edição de hoje da revista Science Translational Medicine, a suspeita é uma realidade.

;Eles mostraram que não é só o material que influencia as respostas ao tratamento, mas também as características da enfermidade que cada pessoa tem;, avalia Luiz Eduardo Teixeira, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e médico do Hospital Madre Teresa, em Belo Horizonte. Os achados poderão ajudar os médicos a definir em quais cenários cada material deve ser utilizado, e ainda otimizar a concepção de produtos personalizados para determinados tecidos de órgãos.

Terapia padrão
Apesar de o ambiente químico, mecânico e biológico do corpo ser altamente variável, influenciado inclusive pelo estágio da doença, o conhecimento científico atual, ainda tímido no campo do desenvolvimento de biomateriais, faz com que a medicina utilize um mesmo produto para tratar pacientes diferentes, com estágios distintos de enfermidades. Os processos inflamatórios, por exemplo, têm capacidade de alterar o desempenho dos implantes porque as células de defesa já estão presentes na lesão bem antes da chegada do material.

[SAIBAMAIS]Sabendo disso, a equipe de Nuria Oliva avaliou se o desempenho dos bioimplantes varia conforme condições alteradas do organismo de ratos com câncer de cólon e colite, que é uma inflamação no intestino. Usaram no experimento bioimplantes adesivo construídos à base de dendrímeros e dextranos. O trato gastrointestinal foi escolhido como modelo por oferecer uma gama enorme de respostas e reações celulares à presença dos implantes. Já os materiais adesivos, muito empregados em cirurgias gastrointestinais, são candidatos ideais para estudar os efeitos da doença, por facilitar a detecção de alterações químicas na superfície do órgão.

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