Vilhena Soares
postado em 27/01/2015 10:19
Substâncias encontradas no café têm propriedade similar às da morfina, fármaco muito utilizado na medicina por ser um eficaz analgésico e ansiolítico. A descoberta foi feita por pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e da Universidade de Brasília (UnB). O estudo mostra ainda que peptídeos (compostos formados por aminoácidos) encontrados na planta podem proporcionar um efeito mais duradouro que o do famoso anestésico, o que abre caminho para o desenvolvimento de novos remédios.A pesquisa surgiu da tese de doutorado de Felipe Vineck no Departamento de Biologia Molecular da UnB, que começou o trabalho estudando o genoma do café. ;Identifiquei novos genes expressos na planta quando ela era submetida à seca. A partir daí, começamos a fazer outras interligações no meu projeto, orientado por Carlos Bloch Júnior, pesquisador da Embrapa;, conta o cientista. Foi durante a análise desses novos genes que Vineck encontrou, dentro de algumas proteínas, os peptídeos capazes de gerar efeito semelhante ao da morfina. ;Ao identificá-los, resolvi desenvolver cópias sintéticas em laboratório, que foram testadas em camundongos;, explica.
Os experimentos mostraram o poder dos novos ingredientes. ;(O efeito de) Uma dose de morfina dura de 40 minutos a uma hora. Observamos que a cópia teve efeito nos animais por quatro horas;, destaca Vineck. O resultado indica a possibilidade de se criar um medicamento que seja usado de forma complementar ao anestésico já conhecido. ;A morfina age na hora, mas essa nova proteína demora cerca de 40 minutos para fazer efeito. Por conta disso, poderíamos administrar as duas juntas, para que uma complementasse a outra, garantindo efeito rápido e duração longa no organismo;, esclarece. Outra vantagem, segundo o pesquisador, seria a redução de efeitos colaterais da morfina. ;A morfina possui altos riscos de dependência caso grandes quantidades sejam injetadas. Reduzindo essa quantidade, nos diminuímos essa possibilidade;, completa.
Os envolvidos no estudo enxergam outras possibilidades de uso para esses peptídeos recém-descobertos. ;Eles também têm o que chamamos de atividade ansiolítica, que diminui a ansiedade do indivíduo, e pode, assim, ser usada como inibidor de apetite;, diz o pesquisador da UnB. Segundo Vineck, o estudo terá continuidade, agora que o pedido de patente das substâncias foi feito. ;O próximo passo é realizar mais testes para ajustar as doses. Outro ponto importante seria contar com parcerias de fabricantes de medicamentos;, antecipa.