“Há uma tendência em considerar esse comportamento como um transtorno psiquiátrico por si só, e não mais como comportamento relacionado a outros problemas”, diz Jackeline Giusti, psiquiatra responsável pelo Ambulatório de Adolescente e Automutilação do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Na edição mais recente do Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais da Associação Americana de Psiquiatria, o DSM-5, a automutilação é classificada como transtorno psiquiátrico com necessidade de estudos futuros. Já na Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10), é tida como transtorno do controle do impulso não específico, ou como um dos sintomas de transtornos de personalidade, como o borderline.
Giusti pondera, porém, que há a tendência de desvincular a automutilação de transtornos de personalidade. “Eles não têm muito tratamento, seu controle não é algo direto. Há muito paciente que se automutila e não é borderline. Primeiro, porque adolescente não tem transtorno de personalidade já que sua personalidade ainda não está formada. Tem, no máximo, traços”, explica. A automutilação geralmente começa na adolescência e é mais comum nessa faixa etária, mas pode se prolongar até a vida adulta. Cientistas australianos acompanharam, durante oito anos, pessoas que começaram a se ferir ainda jovens e concluíram que sintomas depressivos e suporte familiar fraco seriam fatores determinantes dessa persistência de comportamento.
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