Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Usado de maneira inadequada, hidrogel traz sérios riscos à saúde

Absorvida pelo organismo, substância pode levar à morte. Modelo Andressa Urach está internada em estado grave após rejeição do produto aplicado na coxa

Pernas torneadas e grossas, mas com um aspecto mais natural. E do dia para a noite. Essa é a promessa do chamado hidrogel, substância que já é moda nacional e vem tomando o espaço anteriormente ocupado pelas próteses de silicone ou até mesmo pela malhação pesada nas academias. No entanto, os riscos do procedimento - que usa uma substância lícita, mas um objetivo inadequado - têm resultado em casos trágicos. No mais recente, a modelo Andressa Urach, conhecida por ter sido vice miss bumbum em 2012, . Ela segue internada em estado grave na UTI do Hospital Conceição, em Porto Alegre.

O método, que pode recorrer a diferentes tipos de hidrogel, pode ser usado não apenas para aumentar o tamanho das coxas, mas também do bumbum ou corrigir sulcos (pequenos buracos) da face, cicatrizes e até celulites profundas nas nádegas. Sua composição é de poliamida sintética e uma solução fisiológica e a aplicação é feita por meio de uma injeção.

No caso de próteses de silicone, o resultado é o membro aumentado, mas muito rígido. O hidrogel preenche de forma mais completa, deixando o músculo macio. E como o método é menos invasivo, o pós-operatório é bem mais tranquilo. O grande problema é que, com o tempo, a sustância é absorvida pelo organismo. Alguns tipos de produto demoram cerca de cinco anos, mas os temporários permanecem não mais que dois anos no corpo, causando rejeição.



No caso de Andressa Urach, a rejeição ocorre pela segunda vez. Em julho, ela precisou remover o produto, aplicado há cerca de cinco anos, após sentir dores nas pernas. Na madrugada dessa segunda-feira (1;/12), ela voltou a ter desconforto por causa do dreno que usava para eliminar os resquícios do produto. Segundo boletim divulgado nesta terça-feira (2/12), ela continua internada em estado grave, respirando por aparelhos, e não tem previsão de alta.

A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica diz abominar o tipo de procedimento e alerta as mulheres que sempre procurem ajuda de um cirurgião quando quiserem fazer um procedimento para aumentar o tamanho de um membro. Tratamentos estéticos podem parecer simples e práticos, mas guardam diversos riscos e podem levar à morte, dependendo do tipo de produto ou o local onde a pessoa resolve fazer o procedimento. O Conselho Federal de Medicina ressaltou que a atividade é exclusiva dos médicos.

Não se arrisque
; O hidrogel (de polímero de poliamida) é autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas serve basicamente para preenchimentos na pele, como rugas faciais, cicatrizes ou estrias, por exemplo;

; A substância é absorvida com o tempo pelo organismo;

; Diferentemente de algumas próteses de silicone, o preenchimento por hidrogel necessita ser trocado. Alguns demoram cerca de cinco anos, mas os temporários permanecem não mais que dois anos no corpo;

; Apesar de ser aquoso, o hidrogel tem ligações químicas que se firmam no organismo e, por isso, a absorção é lenta;

; Nenhum tipo de hidrogel deve ser aplicado em áreas grandes do corpo;

; Os riscos do procedimentos são aumentados porque envolvem o uso de anestesia. Logo, além do problema com a rejeição, a pessoas pode sofrer choque anafilático (reação alérgica);

; Após o procedimento, é possível ocorrer furos de vasos sanguíneos e posterior infiltração do produto neles;

; Se o procedimento for feito de forma incorreta e por um profissional não preparado principalmente para agir no caso de complicações, há também o risco de morte;

Relembre

A falsa biomédica Raquel Policena Rosa (foto), 27 anos, e o namorado, o professor de idiomas Fábio Justiniano Ribeiro, 33, foram indiciados pela morte da ajudante de leilão Maria José Medrado, de 39 anos, após uma aplicação de hidrogel para aumentar o bumbum. Ela chegou a ficar presa por dez dias no 14; Distrito Policial de Goiânia, mas foi solta em 24 de novembro, quando o juiz Eduardo Pio Mascarenhas da Silva, da 1; Vara Criminal de Goiânia, determinou a revogação da prisão, alegando que a soltura "não representa uma ameaça à ordem pública".

Além do homicídio doloso com dolo eventual (quando se assume o risco de matar), o casal responde a processo por exercício ilegal da profissão, lesão corporal e distribuição de produtos farmacêuticos sem procedência. Maria José morreu no dia 25 de outubro, um dia depois de fazer a segunda aplicação de hidrogel no bumbum, em uma clínica de Goiânia. Após se sentir mal, ela foi internada no Hospital Jardim América, em Goiânia, e morreu na madrugada seguinte, com suspeita de embolia pulmonar.

Em outubro, pelo menos 14 mulheres relataram ter passado mal após receber uma aplicação de hidrogel para aumentar as nádegas. As histórias viraram caso de polícia.


Com informações de Júlia Chaib e Renata Mariz