Lima - A vigésima Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP20) foi inaugurada esta segunda-feira (1/12), em Lima, onde 194 países buscarão avançar rumo a um pacto mundial sobre o aquecimento global, que deve ser aprovado em 2015, em Paris.
As negociações abordarão os esforços de cada país para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, as linhas gerais do acordo, sua forma jurídica e o financiamento para ajudar os países do Sul na luta contra o aquecimento global.
"Devemos criar as bases em Paris para chegar à neutralidade climática e conseguir o desenvolvimento sustentável para todos", disse Christina Figueres, secretária-executiva da Convenção-quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC, na sigla em inglês), patrocinadora do encontro, após a abertura da conferência.
"O ano de 2014 ameaça ter as temperaturas mais elevadas da história e as emissões continuam aumentando. Precisamos agir urgentemente", alertou. O objetivo da COP20 será criar o esboço para um acordo final no ano que vem, que deverá modificar o sistema atual de produção, que causa um aumento de 2,2% ao ano nas emissões de gases de efeito estufa.
Neste ritmo, a temperatura média do planeta subiria 4 graus Celsius por volta do fim do século com relação à era pré-industrial, com a consequente diminuição das reservas hídricas devido ao degelo de glaciares, secas e a perda de terras cultiváveis, entre outros efeitos que impactam especialmente as populações vulneráveis. "Estamos certos de que esta conferência será crucial para o mundo", disse o ministro peruano do Ambiente, Manuel Pulgar Vidal, presidente da COP20, ao inaugurar o evento.
A comunidade científica adverte que os esforços atuais são insuficientes para limitar a 2; C o aumento da temperatura global, o teto fixado pela ONU para evitar um futuro desequilíbrio catastrófico do clima.
Cúpula dos Povos e marcha
Lima lançou nesta segunda-feira (1/12) um ferrenho dispositivo de segurança com 40 mil policiais para proteger 12 mil representantes, que estarão reunidos até 12 de dezembro.
Paralelamente à COP20, será celebrada a partir de 8 de dezembro a Cúpula dos Povos, à qual assistirão o presidente da Bolívia, Evo Morales, e líderes ambientalistas e de comunidades indígenas da região e do mundo, que apresentarão suas demandas aos governos.
Uma grande marcha em defesa do meio ambiente e em repúdio ao impacto que os atuais modelos de produção geram no clima será celebrada em 10 de dezembro na capital peruana e em outras cidades do mundo.
A COP 20 começa com um otimismo moderado pelo recente acordo firmado entre a China e os Estados Unidos, bem como os compromissos da Europa para 2030, sendo estes três os principais atores nos atuais desafios do meio ambiente.
A China, o maior emissor mundial de gases de efeito estufa, se comprometeu a reduzir suas emissões a partir de 2030. Os Estados Unidos se comprometeram em diminuir suas emissões entre 26% e 28% em 2025, com base nos níveis de 2005.
"As mudanças climáticas são obra da humanidade, que em algum ponto de sua história, abandonou a sustentabilidade e se deixou cativar pela ambição e o consumismo desenfreado (...) Devemos recuperar o caminho da sustentabilidade, bem-vindos à ação", disse o presidente, Ollanda Humala, em mensagem aos participantes.
Avanços concretos por setor
Segundo informe publicado este ano pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, em inglês), o desafio global para enfrentar as mudanças climáticas é alcançável "técnica e financeiramente".
Para isto, devem ser adotados novos mecanismos de geração de energia e reformas que geram resistências dos países produtores e das poderosas multinacionais do petróleo.
Para uma futura substituição paulatina do petróleo, do carvão e do gás, deveriam ser feitos investimentos maciços em energias limpas, não geradoras de CO2, indicam os especialistas. Segundo o IPCC, este investimento deveria quase quadruplicar até 2050.
[SAIBAMAIS]É assim que, em Lima, se espera começar a negociar as contribuições de cada nação em diversas frentes: redução das emissões de gases de efeito estufa em valor absoluto, por habitante, por unidade do PIB e por setor de atividade, entre outros aspectos. "Felizmente, temos os meios para limitar as mudanças climáticas e construir um futuro sustentável mais próspero", disse Rajendra Pachauri, presidente do IPCC, que ganhou o prêmio Nobel por seu ativismo ambiental.
Os negociadores em Lima terão duas semanas para definir as linhas gerais do acordo e definir de que forma os países desenvolvidos deverão cumprir até 2020 promessas de ajuda de US$ 100 bilhões para que os países em desenvolvimento façam frente aos efeitos das mudanças climáticas.