Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Pesquisadores desvendam mistérios envolvendo a rota de disseminação do HIV

Analisando dados moleculares, cientistas do Reino Unido detalharam como ocorreu a transmissão de macacos para humanos e o caminho percorrido pelo vírus da África Central para o resto do mundo

A Aids é uma das doenças infecciosas mais devastadoras da humanidade e a causa dela, o vírus da imunodeficiência humana (HIV), infectou quase 75 milhões de pessoas. Logo após os primeiros relatos da doença nos Estados Unidos em 1981 e do isolamento do patógeno dois anos depois, pesquisadores desvendaram um primeiro mistério: o mal foi inicialmente estabelecido em populações heterossexuais do leste e do centro do continente africano. Pesquisas posteriores identificaram, no sul de Camarões, chimpanzés abrigando o vírus da imunodeficiência símia (SIV), que estaria mais estreitamente relacionado com a linhagem que levou à pandemia global da Aids. Um artigo publicado hoje na revista Science parte desse conhecimento e traça como ocorreu a disseminação do HIV da África para o resto do mundo.

[SAIBAMAIS]A transmissão interespécies de SIV para humanos antecede o ancestral comum do HIV pandêmico e, provavelmente, ocorreu no sudeste de Camarões, onde foram identificados os chimpanzés com cepas de SIV mais semelhantes ao grupo Mhave ; linhagem viral responsável pela pandemia da Aids. ;Sabíamos muito pouco sobre as vias de disseminação precoce do HIV e como se estabeleceu uma epidemia continental nas décadas posteriores ao espalhamento para os chimpanzés;, esclarece Faria. Após a transmissão localizada, resultante possivelmente da caça de primatas e do consequente contato com o sangue dos animais, o vírus teria viajado pelas balsas ao longo do Rio Sangha para Kinshasa, capital da República do Congo (na época, Zaire). Durante o período de colonização alemã de Camarões, de 1884 a 1916, as ligações fluviais entre o sul do país e Kinshasa eram frequentes devido à exploração da borracha e do marfim.

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De acordo com o grupo de cientistas liderado pelo pesquisador Nuno Faria, do Departamento do Zoologia da Universidade de Oxford, no Reino Unido, até o fim da década de 1980, a diversidade genética da linhagem de HIV que provocou o caos na saúde mundial foi maior e mais complexa dentro do país do que no resto do mundo. Além disso, dois sequenciamentos de HIV substanciais para prever a descoberta da doença foram recuperados em amostras de sangue e de tecidos coletadas em Kinshasa, capital do Congo entre 1959 e 1960. ;Nossa localização estimada de origem da pandemia explica a observação de que Kinshasa apresenta mais diversidade genética contemporânea do HIV do que em qualquer outro lugar. Esclarece, por exemplo, por que as sequências de HIV mais antigas conhecidas foram adquiridas a partir dessa cidade e por que vários casos precoces sugestivos de Aids estão ligados a Kinshasa.;

Evolução rápida
A avaliação das informações contidas em amostras de sequências virais e as análises evolutivas foram as ferramentas usadas pelos cientistas do Reino Unido para revelar a rápida evolução da pandemia. Os relógios moleculares examinados pelos cientistas concordam que um ancestral comum do HIV pandêmico existiu na primeira metade do século 20. ;Usando métodos alternativos de análise evolutiva aplicada a uma compilação de sequências genéticas de HIV da África Central, descobrimos a dinâmica da criação do vírus em humanos, o que explica como apenas um dos muitos eventos de transmissão entre espécies deu origem à pandemia global que vemos hoje;, diz Faria.

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