Nova York - A luta contra as mudanças climáticas não significa sacrificar crescimento e emprego e pode ser alcançada com um modelo de baixa emissão de carbono, afirma um relatório divulgado nesta terça-feira por um grupo de especialistas liderado pelo ex-presidente mexicano Felipe Calderón.
O estudo "Melhor crescimento melhor clima", apresentado pela Comissão Global sobre Economia e Mudanças Climáticas, propõe economias substanciais nos próximos 15 anos com a adoção de energias renováveis e do cuidado com o solo através da recuperação de terras degradadas e do freio ao desmatamento, entre outras propostas.
"Queremos fornecer ao debate algo que consideramos muito valioso: alternativas econômicas. Este relatório tem um enfoque econômico, mais que ambiental. Fornece ferramentas úteis para utilizar no governo, mas também no setor privado", disse Calderón em uma entrevista à AFP em Nova York na apresentação do documento.
O estudo inclui uma série de 10 recomendações para estabelecer "uma rota na qual não é preciso sacrificar crescimento econômico ou emprego", afirmou Calderón, que citou "uma mudança importante de modelo".
"Muitas mudanças que propomos implicam não apenas melhoras na redução de emissões, mas também em termos de produtividade da economia e dos recursos naturais, por exemplo em termos de incentivos à inovação que têm uma incidência muito positiva, em nossa percepção, no comportamento econômico", explicou.
O relatório foi divulgado uma semana antes da reunião de cúpula do clima em Nova York, convocada pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, para preparar as negociações do próximo ano em Paris, onde os países esperam alcançar um acordo internacional que entre em vigor em 2020.
A ONU quer limitar o aquecimento global a dois graus centígrados em relação à era pré-industrial. No entanto, muitos cientistas afirmam que, diante dos níveis de emissões de gases de efeito estufa, as temperaturas terão aumentado ao fim deste século em mais de quatro graus em relação à era pré-industrial.
Milhões de dólares disponíveis
Segundo o documento, a aceleração da urbanização em nível mundial será acompanhada por gastos em infraestrutura no valor de 90 trilhões de dólares em 15 anos, dos quais três trilhões podem ser economizados a partir de planos de desenvolvimento urbano "mais compactos e conectados".
"A energia renovável está se tornando acessível e tão ou mais econômica em alguns países", afirmou Calderón ao defender a transformação do modelo energético, declarando que seu grupo preferia falar de "oportunidades econômicas em vez de profecias catastróficas".
"Nos mercados financeiros há bilhões de dólares disponíveis para este tipo de investimentos que só estão esperando (...) porque não há uma certeza de política pública", disse neste sentido, mencionando os exemplos bem-sucedidos de Noruega e Suécia, que "crescem mais e emitem menos".
Em relação ao setor privado, o ex-presidente mexicano indicou que as empresas encontram-se em uma "política de esperar e ver", mas que são "muito capazes de se adaptar", como fizeram os fabricantes automobilísticos com as exigências de mais eficiência e menor consumo.
A Comissão Global sobre Economia e Mudanças Climáticas foi criada por iniciativa de oito países: Colômbia, Etiópia, Indonésia, Reino Unido, Noruega, Suécia e Coreia do Sul.
Conta com a participação, entre outros, do ex-presidente chileno Ricardo Lagos; do ex-secretário-geral da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), José Angel Gurría; e da diretora do Banco Mundial (BM).
O documento "A nova economia climática" foi elaborado por vários institutos de pesquisa e guiado por um grupo de economistas que inclui dois Prêmios Nobel.