Isabela de Oliveira
postado em 06/08/2014 08:48
Por acaso, em 1859, um pouco de pólen caiu perto do rosto do homeopata britânico Charles Barkley, um sujeito conhecido pelas crises de rinite que sofria. A reação o fez perceber que o pó poderia ser o agente por trás do incômodo recorrente. O experimento acidental foi o primeiro de muitos que, em 1865, culminaria no primeiro teste cutâneo para alergias. Apesar dos avanços de diagnóstico, o exame de pele permanece os mais popular na identificação do problema. Agora, pesquisadores da Suíça propõem uma técnica muito mais moderna, rápida e barata. Células brilhantes acusam a existência de reações alérgicas em amostra de sangue colhida do paciente.As abordagens atuais para encontrar o gatilho das crises alérgicas podem ser, basicamente, divididas em duas categorias: in vivo e in vitro. A primeira consiste em inocular uma pequena quantidade de um alérgeno específico na pele. Se a pessoa for sensível a ele, apresentará vermelhidão e edema na região após mais ou menos 20 minutos do teste. Os exames in vitro detectam, no soro sanguíneo, os níveis de Imunoglobulina E (IgE) ; anticorpo que indica a ocorrência de uma reação alérgica.
A proposta dos pesquisadores do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique, na Suíça, é uma versão aprimorada dos testes no tubo de ensaio. O diferencial está no fato de os cientistas se valeram da biologia sintética para desenvolver o sistema de diagnóstico. Nele, células brilhantes identificam o IgE, acusando, assim, a presença do anticorpo e das histaminas, moléculas liberadas pelo próprio IgE durante uma crise de alergia.
Longe do pólen
Em experimentos para testar a eficácia do método, amostras de sangue humano foram expostas a alérgenos, como pólen e ácaros. Em seguida, adicionou as células que poderiam ficar fluorescentes. Os resultados, até agora, são promissores: quando as histaminas estavam presentes no sangue, indicando uma resposta alérgica, as estruturas modificadas brilharam. Os resultados foram detalhados na edição de hoje da revista Nature Communications.
Em vários pacientes, o método proporcionou resultados semelhantes aos do teste cutâneo, mas sem expô-los ao desconforto das aplicações na pele. ;Nosso teste é mais rápido e confiável. Também será mais barato. A maioria dos outros exames médicos, os de rotina, é feita com amostras de sangue. Agora, essas amostras também poderão ser usadas para detectar alergias;, defende Fussenegger. Há a possibilidade de usar o novo método para detectar outros tipos de moléculas, podendo ainda servir de base para testes que investiguem a ação de drogas terapêuticas.
Alexandre Ayres, alergista do Hospital Universitário de Brasília (Hub), comenta que a ideia de identificar o IgE para detectar alergias é um conhecimento antigo. Entretanto, o método desenvolvido pelos suíços é o que chama atenção. Ayres pondera que testes in vitro podem apresentar falhas e falsos resultados. Ainda assim, atendem bem aos pacientes que não toleram os exames de pele.
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