Alexei Ivanovich sofre com uma atração irresistível por jogos de azar. A compulsão doentia pelas roletas é alimentada pela paixão por Paulina Alexandrovna, uma mulher interessada no dinheiro obtido nos lances de sorte. No fim, Alexei acaba sem dinheiro e sem o amor. O vício pelo jogo, contudo, permanece. Narrada um século atrás pelo russo Fiódor Dostoiévski, no livro O jogador, a história de Alexei lembra a de milhões de pessoas que não conseguem estabelecer limites para as apostas. Estima-se que esse grupo chegue a 4% da população mundial.
Uma corrente de pesquisas tem mirado nas funções neurobiológicas para entender o que mais, além do aspecto comportamental, pode desencadear a compulsão. Observações de jogadores em cassinos ou em experimentos controlados no laboratório mostraram que o transtorno parece relacionado à desregulação de uma rede cerebral que inclui diferentes áreas. Um novo estudo, contudo, aponta que essa última região parece exercer uma influência crucial na instalação do vício.
Coordenado por Luke Clark, pesquisador da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, a pesquisa convidou 16 pessoas sem danos cerebrais e 17 que tinham lesões em diferentes pontos do cérebro para jogar em uma máquina de caça-níqueis e em uma roleta programados para induzir sequências de quase vitórias. O britânico percebeu que quase todos os voluntários relataram sentir uma motivação maior para continuar apostando, com exceção dos participantes com lesão na ínsula, uma pequena área cerebral protagonista na formação das emoções.
Os oito participantes com essa região danificada não apresentaram a falácia do jogador, um sintoma clássico das pessoas que não conseguem parar de apostar. Esse efeito consiste na percepção errônea sobre a própria habilidade, o que faz com que o apostador acredite ter controle sobre os resultados do jogo. ;A falácia do jogador acontece quando a pessoa perde a referência do que é aleatório e passa a acreditar que tem poder de comando. Os jogos, de modo geral, são criados exatamente para provocar esse efeito. Mas algumas pessoas têm uma relação muito forte com isso. O que vai determinar o momento que a diversão torna-se disfuncional é o prejuízo que ela traz para o indivíduo;, explica Thiago Blanco, psiquiatra do Hospital de Base do DF e pesquisador da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) que não participou do estudo.
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