O Laboratório de Pesquisa em Malária do Instituto Oswaldo Cruz (IOC-Fiocruz) está desenvolvendo drogas alternativas que possam ser administradas junto com uma vacina contra a malária para aumentar a imunidade contra a doença. Ainda não há, porém, perspectiva de quando a vacina ou as novas substâncias estarão disponíveis, disse nesta sexta-feira (25/4) à Agência Brasil o chefe do laboratório e presidente da Federação Internacional de Medicina Tropical e Malária, Cláudio Tadeu Daniel-Ribeiro.
Nesta sexta-feira celebra-se o Dia Mundial da Luta contra a Malária, data em que a Organização Mundial da Saúde (OMS) reforça a importância de se trabalhar para a eliminação da doença em todos os países. No momento, a Fiocruz está efetuando testes pré-químicos em animais próximos ao homem (primatas), mas ainda terão de ser feitas experimentações em humanos. ;Acho que estamos chegando perto de termos uma vacina, em dez anos, que proteja completamente, e uma que proteja parcialmente, em cinco anos, ou até em três [anos]. As nossas [experiências] estão em um estágio menos adiantado;, manifestou o especialista.
Segundo Daniel-Ribeiro, o grande desafio para o Brasil, hoje, é eliminar a malária que mata, antes que ela se torne resistente às drogas disponíveis, procurando as pessoas infectadas em suas casas, como ocorria na década de 1950. Destacou, além disso, a necessidade de se ;conscientizar a população e o pessoal da área de saúde que malária é um problema grave, de emergência médica, porque pode matar na área extra-amazônica;.
No país, a Amazônia concentra 99,6% dos casos de malária. Mas, graças ao diagnóstico imediato, os registros na região caíram 26% em um ano, passando de 241 mil casos, em 2012, para 177 mil, no ano seguinte. Daniel-Ribeiro explicou que quando o tratamento é feito nas primeiras 48 horas após a identificação da doença, diminui a chance de o paciente ficar muito doente e, eventualmente, morrer. Lembrou que 82% dos registros são causados por um parasita que não mata.
O tratamento atual utiliza uma associação medicamentosa que mata o parasita em poucas horas. Há boas ferramentas, disse o pesquisador, assegurando que está tentando desenvolver novas drogas, tendo em vista que 18% dos casos de malária se devem ao plasmódio (parasita da malária) que mata. Analisou como oportuna a decisão do milionário norte-americano Bill Gates, nos anos 2000, de investir recursos em pesquisas visando a erradicação da malária no mundo. A partir daí, os pesquisadores passaram a usar testes de diagnóstico rápido e mosquiteiros impregnados de inseticidas atóxicos. Além disso, passou-se a tratar a malária com uma associação de remédios e não apenas um único antibiótico.
O chefe do Laboratório de Pesquisa em Malária do IOC-Fiocruz acredita que os prefeitos ;têm que investir no combate à malária. Têm que ser recompensados, se forem bem, e têm que ser punidos, se forem mal;. A malária, frisou, ;tem que estar na agenda pública;.
Daniel-Ribeiro disse que, atualmente, 60% dos casos na Amazônia são tratados nas primeiras 48 horas. Os cerca de 4 mil postos de saúde da região estão preparados para fazer o diagnóstico imediato e o tratamento da população. Fora da Amazônia, incluindo as cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte, melhor equipadas, somente 19% dos casos são tratados também nos dois primeiros dias da doença, porque não há um diagnóstico rápido. ;Porque o médico daqui não pensa como qualquer [pessoa de] posto de saúde da Amazônia pensa. Aqui, nós não somos treinados para pensar em malária. O médico pensa que é dengue;. O resultado, indicou, é que quando a malária é diagnosticada e tratada na Amazônia, a pessoa tem 100 vezes menos chance de morrer do que fora da região.
Números divulgados pela assessoria de imprensa do IOC-Fiocruz mostram que a redução no número de mortes por malária atingiu 40% na Amazônia, entre 2012 e 2013, caindo de 60 para 36.
[SAIBAMAIS]Daniel-Ribeiro informou que nos anos de 1940, a estimativa, feita em cima do número de casos febris, é que havia 4 milhões de casos da doença por ano no Brasil. ;Tinha malária no Brasil inteiro;, observou. Na década seguinte, a Organização Mundial da Saúde (OMS) resolveu que era preciso erradicar a enfermidade no mundo por meio de duas estratégias básicas: busca ativa e tratamento dos casos, indo às casas das pessoas; e combate ao vetor. Com isso, de fato, eliminou-se a malária de vários lugares do globo, inclusive da região extra-amazônica, no Brasil, completou. ;Chegou-se ao início dos anos de 1960 com 37 mil casos registrados. Talvez fosse o dobro ou o triplo;. Avaliou, porém, que em comparação aos 4 milhões anteriores, ;foi uma enorme redução;.
Em 1970, os casos subiram para 70 mil. Com os programas de fomento à mineração e à agropecuária, implantados pelo regime militar, Daniel-Ribeiro sublinhou que ;o homem, literalmente, invadiu a floresta;, ocupando a Amazônia, sem saber, cultural e imunologicamente, como se defender dessa infecção, que não conhecia. ;Foi uma mortalidade enorme;. Antes da virada do ano 2000, chegou-se a 600 mil casos no Brasil. De lá para cá, seguiu-se no país o programa da OMS de diagnóstico, busca ativa e tratamento dos casos, com a implantação, na Amazônia, de postos com capacidade de fazer diagnóstico e tratamento gratuitos.
O pesquisador do IOC-Fiocruz chefia um grupo de pesquisadores que é referência para o Ministério da Saúde em malária fora da Amazônia. Segundo expôs, o problema fora da região amazônica é só de vigiar, porque "tem muita gente que viaja, tem até mosquito que viaja, e eu preciso tomar cuidado, porque um caso aqui pode acarretar uma epidemia de dez e até de 100 pessoas. Tem que tomar cuidado para não reintroduzir a malária em lugares onde ela não existe mais;. Quase 90% dos casos registrados fora da Amazônia são importados, informou o pesquisador.