Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Dificilmente, alguns hábitats escaparão dos efeitos da mudança climática

Cientista brasileiro ressalta também que o Brasil não pode se descuidar do combate ao desmatamento

Enchentes, secas extremas, tufões, terremotos. Gente morrendo de calor, outras sucumbindo a doenças infecciosas. Plantações devastadas, espécies animais sumindo do globo. O que parece cena de filme catástrofe já está, de fato, ocorrendo no mundo. O alerta veio do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), órgão da ONU responsável por elaborar relatórios que tracem os cenários atuais e futuros do planeta frente ao aumento de temperatura no globo.

Um dos autores do documento, recém-divulgado em Yokohama, no Japão, é o brasileiro Carlos Nobre. Secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, o cientista climático foi nomeado, no ano passado, para o Painel de Alto Nível para Sustentabilidade Global, conselho que assessora diretamente o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. O texto que ajudou a compor deverá influenciar o selamento de um acordo climático mais enfático em 2015, quando ocorre a Conferência das Partes de Paris, a COP-21. Até lá, os países-membros das Nações Unidas ainda terão o encontro de Lima, daqui a sete meses, para discutir políticas de mitigação e adaptação.

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O Grupo de Trabalho 2 do IPCC, cujo relatório foi divulgado agora, apontou os principais desafios para as diversas regiões do planeta, enfatizando a necessidade de gerenciar os riscos antes que seja muito tarde. Em entrevista ao Correio, Nobre destaca a metodologia, que tornou mais fácil visualizar a contribuição das mudanças climáticas para a dinâmica do planeta. O cientista explica que, no que se refere às ameaças aos sistemas humanos, é possível reverter alguns impactos com a adoção de políticas de redução da vulnerabilidade social. Contudo, o secretário do MCTI lembra que o mesmo não vai ocorrer em relação a sistemas naturais. A ciência ainda desconhece estratégias de adaptação que evitem o rigor dos impactos climáticos sobre determinados hábitats, como os oceanos: ;Para milhões de espécies do planeta, a vida pode não ser tão fácil;, alerta.


Na avaliação de Carlos Nobre, o Brasil está no rumo certo em relação às recomendações feitas pelo IPCC. O país é o único entre os desenvolvidos a reduzir emissões de CO2, graças à queda do desmatamento. Mas o cientista adverte que a tendência positiva poderá se reverter caso se descuide das políticas de combate ao desflorestamento: ;Essa é uma política que tem de ser implementada permanentemente;, diz.

As últimas edições das Conferências das Partes (COPs) frustraram pelos resultados modestos. O senhor acredita que o relatório do IPCC servirá de instrumento de pressão para que o encontro de Lima seja mais expressivo?
Acredito que sim, não só agora, mas também em Paris, no ano que vem. O relatório do Grupo de Trabalho 2 traz um referencial conceitual mais forte, mais poderoso. Ficou mais fácil a comunicação desse relatório. Ele está em uma linguagem sintética e fácil de entender. Por exemplo, aparece um diagrama que liga o risco com a capacidade de combater aquele risco, com a adaptação. Ficou mais simples enxergar a mudança climática com relação aos geradores de risco, que são uma união de forças: uma é a ameaça climática, a outra é a vulnerabilidade, a pobreza, a inequidade, além da exposição. O risco é o produto dessas três coisas. Está mais fácil entender o peso das mudanças climáticas. Ficou muito pedagógico. Tudo foi elaborado em função desse conceito de gerenciamento de risco.

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