Ciência e Saúde

Estudo que descreveu maneira de produzir células-tronco é reavaliado

Há dúvidas sobre a eficácia da técnica e denúncia anônima de manipulação de imagens

Paloma Oliveto
postado em 19/02/2014 07:00
Imagem mostra embrião de camundongo que teria se desenvolvido com a ajuda das novas células-tronco

O ano começou com uma grande revelação para a medicina regenerativa: cientistas japoneses afirmaram, no mês passado, ter descoberto uma nova maneira de fabricar células-tronco pluripotentes, aquelas que se transformam em qualquer tipo de tecido do corpo. Sem necessidade de usar embriões nem de manipular geneticamente o núcleo, as batizadas células STAP poderiam, de acordo com os autores do estudo, ser geradas a partir de estruturas adultas expostas a uma substância de pH ácido. Agora, a Nature, mesma revista que publicou o artigo científico há duas semanas, anunciou, em seu site, que o resultado está sendo investigado pelo Centro Riken de Desenvolvimento Biológico, onde o trabalho foi desenvolvido.

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Ontem, um porta-voz da instituição japonesa afirmou que o Riken, o maior centro de pesquisa do Japão, iniciou uma investigação a respeito dos dados divulgados e da metodologia aplicada pela equipe liderada pela bióloga Haruko Obokata. O motivo da apuração teriam sido dúvidas levantadas por cientistas do próprio Riken e de outros polos de pesquisa, que estavam tentando, sem sucesso, replicar o resultado. Obokata não se manifestou publicamente. A bióloga não está sendo acusada de fraude, mas há dúvidas sobre a autenticidade de imagens do embrião no qual as STAPs foram inseridas. Uma postagem anônima publicada no site PubPeer, um fórum de discussão de trabalhos científicos, acusou a equipe de Obakata de manipular e duplicar as fotos. Além disso, colegas da bióloga acreditam que o passo a passo da técnica contém erros ou omissões.

Boa recepção
Em 29 de janeiro, a divulgação do artigo foi bem-recebida no meio científico. Células-tronco são a grande aposta da medicina regenerativa, com um potencial de tratamento de diversas doenças, como Parkinson e eslcerose múltipla, além de representar uma esperança para quem necessita de transplante de órgão. Diferentemente das embrionárias, que suscitam muito debate ético e, na prática, facilitam o surgimento de tumores, as originadas de tecidos adultos podem ser obtidas da pele do próprio paciente. Com manipulação genética, células da epiderme voltam ao estágio indiferenciado. Ao serem tratadas com substâncias específicas, elas se transformam na base de fabricação de qualquer órgão: coração, rim, cérebro etc. As células pluripotentes induzidas foram descobertas em 2006 e, no ano passado, teve início o primeiro estudo com humanos que utilizam a técnica. Apesar de promissor, o procedimento é caro e complexo, pois exige mudanças no núcleo celular.

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