Cientistas anunciaram nesta quarta-feira (29/1) ter conseguido uma forma simples de fazer as células animais voltarem a um estado jovem e neutro, um feito enaltecido como um avanço revolucionário na busca por desenvolver tecidos para transplantes em laboratório.
A pesquisa, publicada na revista Nature, pode ser o terceiro grande avanço das células-tronco, um campo futurístico que visa a reverter doenças letais ou incapacitantes, como o mal de Alzheimer, o câncer e outras.
O avanço mais recente veio do Japão, assim como seu antecessor, que rendeu ao seu inventor um Prêmio Nobel.
Depois que superar obstáculos de segurança, a nova abordagem poderá derrubar os custos e as barreiras técnicas na pesquisa sobre células-tronco, afirmaram comentaristas independentes.
"Se funcionar no homem, essa pode ser a virada de jogo que acabará por disponibilizar um amplo espectro de terapias usando as próprias células do paciente como material inicial", disse o professor de Medicina Regenerativa Chris Mason, da University College de Londres. "A era da medicina personalizada chegou", acrescentou.
As células-tronco são células primitivas que, à medida que crescem, diferenciam-se, dando origem a várias células especializadas que formam diferentes órgãos, tais como o cérebro, o coração, o rim e assim por diante.
A meta é criar células-tronco em laboratório e estimulá-las a desenvolver células diferenciadas que serviriam para criar órgãos de reposição danificados por doenças, ou acidentes.
Um dos obstáculos, no entanto, é assegurar que essas células transplantadas não sejam atacadas como um invasor pelo sistema imunológico do corpo.
Para conseguirem isto, as células-tronco teriam de carregar o código genético próprio do paciente, de forma a que seu organismo identifique o novo órgão como amigável.
Em 1998, deu-se o primeiro avanço: o uso de tecnologia da clonagem - iniciada com a ovelha Dolly - para coletar células-tronco com base em embriões em estágios iniciais, cultivados a partir do próprio DNA do doador.
Muito versáteis, essas células-tronco "pluripotentes" são controversas, pois o método consiste na destruição do embrião, algo contestado por religiosos conservadores, entre outros.
Em 2006, uma equipe de cientistas chefiada por Shinya Yamanaka, da Universidade de Kyoto, co-ganhador do Nobel de Medicina em 2012, criou as chamadas células-tronco pluripotentes induzidas (iPS, na sigla em inglês).
Com isto, a equipe pegou células maduras e as codificou com quatro genes, "rebobinando" os programas genéticos das células para devolvê-las a um estado juvenil.
A técnica teve de superar a barreira precoce de causar tumores nas células e ainda enfrenta problemas de eficiência, uma vez que menos de 1% das células adultas costumam ser reprogramadas com sucesso.
O último avanço, realizado por Haruko Obokata, no Centro RIKEN de Biologia do Desenvolvimento em Kobe, fez uma abordagem "de baixa tecnologia" totalmente diferente e surpreendente.
;Marcas de pluripotência;
Os glóbulos brancos em ratos recém-nascidos foram devolvidos a um estado versátil, quando incubados em uma solução com alta acidez por 25 minutos, seguidos de um giro de cinco minutos em uma centrífuga e de uma imersão por sete dias em uma cultura de crescimento.
As denominadas células STAP (sigla em inglês para Aquisição de Pluripotência Desencadeada por Estímulo) são de uma inovação revolucionária.
Até agora, apenas células de plantas e não de mamíferos conseguiram ser reprogramadas até um estado juvenil por intermédio de fatores ambientais simples.
"Essas células STAP contêm todas as marcas da pluripotência", declarou Obokata nesta terça-feira em um briefing na Internet com jornalistas.
As células STAP parecem ter uma habilidade limitada para se auto-renovar, e ainda é preciso ver se podem ser obtidas de humanos.
Só muito depois poderão ser realizados testes em humanos.
Foram necessários 13 anos para a realização dos primeiros testes com células-tronco embrionárias e seis anos para os primeiros testes com iPS.
Dusko Ilic, cientista especializado em células-tronco no Kings College de Londres, disse que a abordagem "de fato é revolucionária", alertando, porém, que "não torna mais próxima a terapia baseada em células-tronco".
"Precisaremos usar as mesmas precauções para as células geradas desta forma, assim como para as células isoladas de embriões, ou reprogramadas com um método padrão", afirmou, em comentários reportados pelo Science Media Centre, em Londres.