Há mais de 40 anos, os cientistas sabem que o pesticida sintético diclorodifeniltricloroetano (DDT) é perigoso para o hábitat dos pássaros e pode representar riscos ao ambiente. Agora, pesquisadores da Universidade de Rutgers, nos EUA, afirmam que a exposição a esse agente químico %u2014 banido do Brasil, mas presente ainda em muitos países %u2014 pode também aumentar o risco e a severidade do mal de Alzheimer em algumas pessoas, particularmente naquelas com mais de 60 anos.
Em um estudo publicado na edição on-line da revista Jama Neurology, os pesquisadores relatam que os níveis do componente químico DDE, um resíduo do pesticida, são maiores no sangue de pacientes de Alzheimer comparado aos que não têm a doença. O diclorodifeniltricloroetano foi introduzido durante a Segunda Guerra Mundial e, apesar de retirado do mercado de muitos países como pesticida, ainda é usado no controle de vetores da malária em alguns deles, como os Estados Unidos. A lei brasileira proíbe seu uso para qualquer fim.
%u201CAcho que esse resultado demonstra que é preciso focar mais a atenção no potencial dos fatores ambientais e sua interação com a suscetibilidade genética%u201D, diz Jason R. Richardson, professor do Departamento de Medicina Ambiental e Ocupacional da Universidade de Rutgers. %u201CNossos dados também podem identificar pessoas em risco para a doença de Alzheimer, levando a um diagnóstico precoce e a melhores prognósticos%u201D, acredita. Ele lembra que muitas pessoas podem estar expostas ao pesticida ao consumir frutas, vegetais e grãos importados.
No estudo, 74 pacientes com média de idade de 74 anos apresentaram níveis de DDE no sangue quase quatro vezes maior que as 79 pessoas do grupo de controle, que não tinham Alzheimer. Os indivíduos com a versão do gene ApoE4, que aumenta muito o risco de desenvolvimento da doença, aliado a quantidades altas de DDE no plasma, exibiram danos cognitivos ainda mais severos que aqueles que tinham o mal, mas não tinham essa variante genética. Estudos feitos em células cerebrais também constataram que o DDT e o DDE aumentam os níveis de uma proteína associada à formação de placas entre os neurônios, um desencadeador da doença de Alzheimer.
Restos das chamadas proteínas beta-amiloides, que se acumulam em regiões do cérebro envolvidas com memória, aprendizado e raciocínio, se juntam em aglomerados, aumentando o progresso da doença. De acordo com Richardson, a pesquisa de Rutgers sugere que as substâncias químicas do pesticida podem contribuir diretamente para o processo de desenvolvimento das placas. %u201CPrecisamos conduzir pesquisas futuras para determinar se isso realmente ocorre e como os compostos químicos interagem com o gene ApoE4%u201D, diz.