postado em 28/01/2014 09:17
;Eu quero uma casa no campo, onde eu possa compor muitos rocks rurais e tenha somente a certeza dos amigos do peito e nada mais.; O trecho de Casa no campo, canção famosa gravada por Elis Regina, é um exemplo da vontade comum entre muitas pessoas de fugir para perto da natureza como uma tentativa de encontrar mais felicidade e calma. Além de ser fonte de tranquilidade, o verde pode trazer mais saúde, indicam estudos recentes.
Pesquisas divulgadas por cientistas ingleses e finlandeses mostram que pessoas que moram perto da natureza têm uma saúde melhor do que as moradoras de locais totalmente urbanos. Os estudiosos descobriram ainda que o contato regular com o verde tem efeito a longo prazo. Mesmo após uma mudança de endereço, os benefícios da experiência permanecem durante anos.
Isabel Cavalcanti, 34 anos, conseguiu alterar a rotina e aumentar a qualidade de vida há oito anos, quando se mudou de uma casa para um haras, ambos em Sobradinho. Ela trocou de endereço para ficar mais perto da família do marido e percebeu as mudanças em pouco tempo. ;Encontrei novidades que mudaram o meu modo de viver. Antes, eu tinha uma vida mais sedentária, não realizava exercícios nem me preocupava muito com a minha alimentação. Hoje, caminho nas trilhas que temos aqui no haras e consigo fazer as refeições de casa com os legumes da horta que cultivamos aqui;, conta.
Isabel acredita que essas mudanças fizeram com que ela e sua família conseguissem viver com mais qualidade. ;Meu filho nasceu aqui e foi criado solto, com muita liberdade, animais por perto como tucanos e araras. Para ele, é bem divertido e saudável e, para nós, também. Nosso estilo de viver mudou para melhor;, avalia.
Ian Alcock detectou resultados semelhantes ao avaliar mais de mil participantes em um estudo conduzido na Universidade de Exeter Medical School, no Reino Unido. Alcock e equipe focaram em dois grupos de pessoas: aquelas que foram viver em áreas urbanas mais verdes e as que se mudaram para as áreas urbanas menos verdes. A análise durou cinco anos e os pesquisadores descobriram que a ida para áreas mais verdes resultou em uma melhora imediata na saúde mental dos participantes, que foi mantida por pelo menos três anos depois da troca de endereço.
O estudo, divulgado na revista Environmental Science & Technology, também constatou o inverso: queda na saúde mental em pessoas que passaram a viver em ambientes com menor contato com a natureza. ;Esses resultados são importantes para os planejadores urbanos que trabalham com a introdução de novos espaços verdes para vilas e cidades, o que sugere que eles poderiam fornecer benefícios a longo prazo para as comunidades locais;, analisa Alcock.
Do lado de casa
Os espaços verdes não precisam ser exclusivos ou distantes dos centros urbanos, segundo a pesquisa. Frequentar o parque perto de casa também rende benefícios à mente e ao corpo. O professor universitário Gabriel Cardoso é triatleta. Mora em Águas Claras, cidade conhecida pelo grande número de construções e pelo trânsito pesado. Apesar das complicações que tiram o sossego, ele consegue escapar da bagunça todos os dias ao visitar o Parque de Águas Claras. ;Venho para cá pela proximidade mesmo, bem em frente a minha casa. O espaço do parque é muito amplo e arborizado, o que me permite correr, pedalar, exercitar o meu hobbie em um ambiente bem agradável, bastante verde;, conta.
Uma das vantagens de morar perto do parque, para Gabriel, é que ele pode adequar os treinamentos à rotina e, desse modo, praticar mais exercícios, reservando um período do tempo também para ficar perto da natureza. ;Acredito que a proximidade me dá bastante estímulo, a praticidade é uma vantagem, o triatlo exige uma quantidade de treinos muito grande e muito fixa. Uso os intervalos que tenho, seja de manhã, seja à noite, e consigo também curtir um pouco a natureza, o que me faz muito bem;, completa.
Pesquisadores finlandeses também reuniram provas de que um período de tempo pequeno por dia passado próximo a áreas verdes pode trazer resultados positivos. O trabalho foi feito pela equipe do Departamento de Saúde Ambiental e da Unidade de Epidemiologia do Instituto Nacional de Saúde e Bem-Estar e publicado recentemente no Journal of Environmental. Os cientistas realizaram um experimento com 77 participantes que foram levados, após o expedientes, para três espaços com paisagens diferentes na cidade de Helsinque, na Finlândia.
As áreas visitas foram o centro da cidade, um parque urbano e uma floresta urbana. Os pesquisadores perceberam mudanças positivas quando os participantes iam aos locais em que tinham mais contato com a natureza. ;Nossos resultados mostram que o grande parque urbano e a floresta urbana resultaram em quase a mesma influência positiva, mas, no resultado final, os efeitos positivos foram maiores nas visitas à floresta;, complementa Liisa Tyrv;inena, uma das líderes do estudo.
Os cientistas acreditam que o trabalho mostra que passar um tempo próximo à natureza, mesmo que pequeno, pode fazer bem para o humor das pessoas. ;As descobertas sugerem que até mesmo visitas de curto prazo para áreas naturais tem efeitos positivos em relação ao alívio do estresse;, detalha Tyrv;inena no trabalho.
Segundo Denise de Lima Oliveira Vilas Boas, vice-presidente da Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental, que muitas pesquisas na área de psicologia ambiental têm surgido com o foco em melhorias na saúde proporcionadas pela natureza. Os resultados seguem a linha das constatações feitas pelos estudiosos do Reino Unido e da Finlândia. ;Esse é um ponto de pesquisa interessante. Ficar mais perto do meio ambiente pode fazer com que a pessoa se sinta mais motivada a praticar esportes, como correr, e esse é o primeiro passo para que se tenha mais qualidade de vida;, destaca.