Paris - Uma das missões mais ambiciosas da história espacial entra em sua fase decisiva na próxima segunda-feira (17/1), quando a sonda Rosetta despertará de anos de hibernação para seguir o rastro de um cometa.
"O mais importante despertador do Sistema Solar" vai por fim ao longo sono da sonda Rosetta às 08h00 do dia 20 de janeiro (horário de Brasília), preparando-a para um encontro histórico nos confins do espaço, informou a Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês).
A ESA espera que Rosetta desvende os mistérios da origem do sistema solar, com a análise do cometa 67P/Coriumov-Guerasimenko, que deve alcançar no próximo verão no hemisfério norte, antes de cumprir um pequeno percurso com ele até o final de 2015.
Esta missão de "arqueologia espacial" deve seu nome à famosa pedra Rosetta (fragmento de estrela com um mesmo texto em três línguas diferentes), que permitiu ao francês Champollion descifrar hieroglifos egípcios no começo do século XX.
Lançado quase uma década atrás, Rosetta é uma aposta bilionária para tentar desvendar os segredos dos cometas. Aglomerados de gelo e poeira - o que explica seu apelido, ;bolas de neve sujas; -, acredita-se que os cometas sejam remanescentes dos primórdios do nosso Sistema Solar.
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"Abrir estas cápsulas do tempo, observar o gás, a poeira e, particularmente, o gelo de que são feitos fornece grandes pistas sobre a origem do nosso Sistema Solar e, potencialmente, até sobre a vida", explicou o astrofísico Mark McCaughrean.
Para alcançar o cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko, Rosetta foi lançada em 2004 para cumprir um trajeto de sete bilhões de quilômetros no interior do Sistema Solar.
Mas por que o 67P/TG e não outro entre os incontáveis cometas próximos de nós? Porque este cometa em particular viveu bilhões de anos no espaço profundo até que uma passagem perto de Júpiter mudou radicalmente sua órbita em 1959. Dito de outra forma, este cometa quase não sofreu erosão dos raios solares e seu testemunho sobre o universo promete ser particularmente compreensível.
"Esta cápsula do tempo está fechada há 4,6 bilhões de anos. Chegou o momento de abrir a arca do tesouro", acrescentou.
A sonda circundou três vezes a Terra e uma vez Marte, usando o empuxo gravitacional dos planetas como um estilingue para ganhar velocidade. "Tivemos que circundar o sol cinco vezes em diferentes órbitas para ganhar velocidade", explicou Paolo Ferri, diretor da missão solar e planetária da ESA.
Em junho de 2011, Rosetta alcançou o ponto mais distante do sol, a uma distância de 800 milhões de quilômetros, tão longínquo que nossa estrela encolheu até ser se tornar um minúsculo ponto.
Seis horas para despertar
A sonda levará seis horas para ligar e testar todos os seus sistemas, inclusive para desdobrar seus dois imensos painéis solares, com 14 metros de comprimento cada um. Mas por estar muito longe de casa, mesmo que tudo esteja funcionando bem, o sinal de rádio reportando a regularidade dos sistemas levará 45 minutos para chegar à Terra.
A sonda realizará, progressivamente, manobras de frenagem e aceleração, a fim de seguir o rastro do Cometa "C-G." Em agosto, a nave será colocada em uma órbita apenas 25 km sobre o cometa, usando 11 câmeras, radar, micro-ondas, infra-vermelho e outros sensores para esquadrinhar sua superfície.
Em novembro, Rosetta e seu robô-laboratório Philae, do tamanho de uma geladeira, pousarão e se prenderão na superfície acidentada do cometa para realizar experimentos.
A sonda e o robô são dotados, no total, de 21 instrumentos. "Queremos saber tudo sobre o cometa, seu campo magnético, sua composição, sua gravidade, sua temperatura, tudo", disse Amalia Ercoli-Finzi, encarregada de um dos muitos experimentos que integram o programa.