O uso da imunoterapia para combater o câncer foi o avanço científico mais significativo de 2013, segundo a lista dos dez feitos científicos mais importantes do ano, elaborada pela revista Science.
A pesquisa contra o câncer viveu este ano uma revolução depois que esta abordagem para combater a doença, em desenvolvimento há décadas, finalmente revelou seu potencial terapêutico, explicaram os responsáveis editoriais da revista Science na última edição quinzenal da revista, datada de 20 de dezembro.
Vários testes clínicos que usam a imunoterapia - um tratamento que age no sistema imunológico, especialmente nos indivíduos com linfócitos ou células T para atacar os tumores -, revelaram esta técnica como muito promissora contra cânceres agressivos como o melanoma, quando outros tratamentos haviam fracassado.
"Este ano, a imensa promessa representada pela imunoterapia contra o câncer deixa poucas dúvidas", mesmo sendo necessário manter a prudência devido ao baixo número de pacientes tratados, escreveu Tim Appenzeller, redator-em-chefe da Science. Ele destacou também o fato de que "um grande número de oncologistas agora está convencido de assistir a um momento chave de não retorno no tratamento do câncer".
Um grande número desses avanços na imunoterapia do câncer remonta à descoberta por cientistas franceses, no final dos anos 1980, de um receptor das células T, o CTLA-4, uma molécula que desempenha um papel fundamental na regulação do sistema imunológico. Experimentos em ratos tinham mostrado que neutralizando esse receptor, as células T lutavam contra o tumor e reduziam consideravelmente seu tamanho em animais.
Investimento farmacêutico
Mais recentemente, em 2006, cientistas japoneses identificaram um novo receptor que detinha a ação anticancerígena das células imunológicas e que os primeiros testes clínicos em pacientes foram promissores, lembrou a Science.
Em 2011, a modificação genética das células T com a finalidade de programá-las para destruir os tumores também suscitou muito entusiasmo na comunidade médica e foi objeto de vários testes clínicos, sobretudo em pacientes que sofrem de leucemia.
Como sinal do importante potencial da imunoterapia, muitos laboratórios farmacêuticos investem muito dinheiro a partir de agora neste novo tratamento contra o câncer, que foi ignorado por muitos anos, segundo a Science.
Além deste avanço, a revista científica destacou outros nove em 2013:
- Uma técnica de modificação de genes chamada CRISPR, inspirada em um mecanismo descoberto nas bactérias e que estas utilizam para se proteger. Os cientistas a usaram para manipular o genoma das plantas, animais ou células humanas. A CRISPR foi uma das descobertas principais da pesquisa biomédica em 2013.
- As células fotovoltaicas feitas com o mineral perovskita. Trata-se de uma nova geração de materiais mais baratos, que permitem produzir painéis solares com menor custo.
- A biologia estrutural, usada pela primeira vez na produção de uma vacina. Essa técnica usa a estrutura de um anticorpo para conceber um imunógeno, o agente ativo da vacina.
- A técnica de imagem chamada CLARITY, que faz com que os tecidos cerebrais se tornem transparentes e os neurônios fiquem visíveis, o que permite explorar o cérebro como nunca antes.
- Mini-órgãos humanos desenvolvidos in vitro e que permitem produzir mini-fígados, mini-rins ou cérebros em miniatura, que poderiam se tornar em modelos melhores do que os animais para a pesquisa.
- A identificação da fonte, durante muito tempo misteriosa, dos raios cósmicos nos vestígios das supernovas, como são conhecidas as estrelas que explodiram.
- Pesquisas com camundongos que mostraram que o sono é essencial para que o cérebro possa se limpar e aumentar o espaço entre os neurônios, o que permite uma circulação mais rápida de fluidos.
- Trabalhos sobre os bilhões de bactérias que habitam o nosso corpo e que mostram sua importância para a saúde e para preparar tratamentos personalizados mais eficazes contra as doenças.
- Células-tronco derivadas de embriões humanos clonados.